Dilemas da sola do meu sapato



Por Cidinha da Silva

Recebi de um leitor anônimo o seguinte comentário sobre o texto Um princípio de diversidade humana na novela Lado a lado:

“Lendo o seu blog eu fiquei tentado a ter vergonha de minha cor branca. Você fala com uma segurança invejável, como se as pessoas de cor branca fossem as culpadas pelo mal que as pessoas negras sofrem, como se só as pessoas de cor negra sofressem injustiças no mundo. É um jeito confortável de ver a vida, como se milhões de pobres não fossem brancos e não sofressem preconceito.

Mas então eu pensei melhor e, vendo que você esconde um profundo ódio por qualquer ser humano que vá contra suas crenças ideológicas, decidi ter dó e comiseração dessa sua alma adoecida, que vê no outro o culpado pelo mal que você sofre.

O ódio que a militância cultural tem do ser humano é tão profundo que já vi negros serem chamados de "brancos" por não concordarem com as cotas raciais. Como se ser branco fosse crime ou sinal de viciosidade.

Graças a militantes como você, que separam as pessoas pela cor da pele, estabelecendo bondade e maldade segundo critérios raciais, sei que verei essas cenas mais vezes. Para sua felicidade e infelicidade minha.”

Desconfio de quem seja o autor do desabafo, mas não darei corda às minhas suspeitas porque um dia, em outra situação, o fiz, comentei com amigo, cuja amizade julgava mais profunda e ele foi tão estúpido e grosseiro na resposta (porque envolvia amigo dele) que aprendi uma lição, certas suspeitas a gente só partilha com o travesseiro.

Há determinadas coisas que não discuto mais, deixo para os brancos comprometidos com o fim dos privilégios da branquitude fazerem. Letramento racial é uma delas, meu posto hoje é avançado, não cumpro mais essas tarefas básicas.

Creio que é só, nem status de crônica ou texto opinativo resolvi dar a este escrito, é apenas uma nota para que não nos esqueçamos da lama podre e fétida que impregna a sola dos nossos sapatos.

Comentários

Postagens mais visitadas