É só alegria!
Por Cidinha da Silva
Os dias eram pré-carnavalescos no
Rio de Janeiro. O taxista ouvia os sambas-enredo do ano e cantava animado. Comentei
sobre a beleza do samba da Vila, a Vanessa da Mata de Clara no ensaio técnico, a
homenagem ao Paulinho, foi o bastante para o cara se sentir íntimo e me
visualizar como integrante da escola de samba dele. Era chefe de ala.
Sabe como é a gente fica
cabreira, analisa os perigos da cantada barata, tinha toda a linha vermelha
pela frente, do Galeão até Santa Tereza, mas o cara era militante do samba e
nem me deu tempo para respirar. Sacou um cartão com todos os telefones,
explicou que o celular grifado era atendido pela esposa que me encaminharia ao
departamento correto.
Era de graça, eu não precisava me
preocupar. Como assim? Perguntei. Não, querida, ele me disse, tu sabe que nas
escolas tem a ala da comunidade, não é? Tu conversa com a minha esposa e
ela te orienta direitinho. Tu vai dizer
que é doméstica. É molezinha, ele continuou. Tu vai precisar de uma conta de luz paga, pra
provar que é moradora da comunidade. Pega com o pessoal do Dois Irmão. Se for
do Fogueteiro é gato, mas é só pedir aquele recibinho pro escritório da
milícia, eles dão se o morador tiver com as taxa em dias.
Só vai ter um porém... Qual? Eu
perguntei curiosa. Esse cabelinho! Assim não vai. O que tem o meu cabelo,
perguntei como se não soubesse. Ah... querida, tu sabe, doméstica não usa esse negócio
enroscado, patroa nenhuma aceita. Não é nada pessoal, não leve a mal, mas não
orna na escola de samba. Tu vai ter que morrer uma grana na chapinha. Mas não
se preocupe, não há mal que sempre dure. É seu dia de sorte e tu encontrou o
cara certo.
Ele abaixa um pouco os óculos
escuros, antes de frear o carro no meu destino, olha por cima das lentes,
parece escolher o tipo de artefato que enfrentará meus dreads, pisca e completa: fica tranqüila, minha esposa tem um salão
especializado em chapinha, ela resolve.
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