Lançamento da antologia de autoria negra Quilombo (em espanhol)
Nessa entrevista a José Falero, respondo as mesmas perguntas feitas a outros colegas. Nossas respostas são mostras ricas da nossa pluralidade de pensamento, da diversidade de enfoque. Leia tudo, mas já deixo algo de minhas reflexões aqui para você degustar. Boa leitura.
Parêntese – Logo na introdução de Quilombo: Cartografía de la autoría negra brasileña, Lucía Tennina responde à seguinte pergunta: “Por que fazer uma antologia de autoria ‘negra’ brasileira e não uma antologia simplesmente?” Gostaria que vocês falassem um pouco sobre isso, e portanto transfiro a mesma pergunta a vocês.
A presença da intelectualidade negra em antologias importantes, principalmente internacionais, costuma acontecer de duas formas: a primeira, em publicações específicas dedicadas à autoria negra; a segunda acontece quando a organização da antologia adota princípios de diversidade e, nesta situação, define desde a origem que contará com sujeitos de vários grupos, pertencimentos, características, incluindo a autoria negra. As formas possíveis de participação em antologias que não tivessem um dos dois formatos mencionados anteriormente talvez passassem por alguns raros nomes de autoras e autores negros que alcançam destaque no sistema literário e logram participar de espaços bem restritos. Antologias de autoria negra serão necessárias enquanto o sistema literário não potencializar essas autoras e autores e não amplificar suas vozes, enquanto o cânone que legitima os trabalhos literários e sua respectiva autoria também não se tornar mais plural. Enquanto essas mudanças são processadas, as antologias específicas dão a conhecer essas vozes.
P – Parece haver, por parte de uma parcela do público leitor, uma certa expectativa de que autoras e autores negros limitem-se a abordar questões étnico-raciais em suas produções. Vocês concordam que exista tal expectativa? Se sim, qual é a natureza dela, na visão de vocês? O que a explica? E como vocês costumam lidar com essa expectativa?
CS – Sim, Falero, eu concordo, existe essa expectativa limitante, de natureza racista e colonial, que quer circunscrever a agência negra, quer domesticá-la em espaços controlados de pensamento e criação. Quanto à forma de lidar com isso, depende da destreza de meus oponentes, se tiverem algum refinamento discursivo, eu jogo Angola, gingo e desfiro rasteiras e cabeçadas elegantes para liquidar o jogo logo, porque me falta paciência e tenho assuntos mais relevantes a tratar. Se forem por demais estúpidos, não desperdiço meu repertório angoleiro, também respondo grosseiramente. Em qualquer dos casos dou porrada, é a única linguagem que essa gente entende (e merece), deixo a cargo de quem tem mais tempo, paciência e espírito magnânimo, a tarefa de “educar a branquitude”.
https://www.matinaljornalismo.com.br/parentese/entrevista/quilombo-um-espaco-de-resistencia-na-literatura/?fbclid=IwAR2Si1Zrt43iy4vzdB8Y824X_XXCOHDdKjvrKROFRPlxEz9u2hu5grpnK9E
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