Viva, Ismael Ivo! Para sempre bem lembrado!

por Cidinha da Silva O tempo vivido tem sido de dor, medo, perdas generalizadas, sofrimento, melancolia, angústia, desespero, luto individual e coletivo, adoecimento da emoção, do espírito e do corpo. As mortes previsíveis e evitáveis atingem números estratosféricos e se antes morríamos por não resistir à doença, agora morremos porque não há leitos nos hospitais e mesmo quando conseguimos internação, faltam oxigênio e insumos para entubar as pessoas nas UTIs. As pessoas mais pobres experimentam a crueza da morte sem filtros, presenciam os corpos enrolados em lençóis e cobertores porque faltam sacos adequados para abriga-los; vivenciam a ausência de espaço em necrotérios; recebem uma fotografia do corpo dos parentes para o reconhecimento final e liberação para o périplo do sepultamento em cemitérios sem capacidade para receber mais corpos. Não existem tempo e espaço para despedidas e honrarias. Entre os 4.249 mortos por Covid-19 no dia 8/4/2021 consta o grande artista da dança Ismael Ivo, um mito do qual ouvi falar ainda na adolescência. Depois escutei muitas histórias contadas por paulistanos negros, vi fotos, vídeos, li sobre ele, até que voltou para o Brasil após desenvolver excepcional carreira em outros países. Tive a graça de trocar duas palavras com Ismael Ivo num fim de tarde em que retornava da Biblioteca Mário de Andrade pela Av. São Luís. Ele vinha da da Ipiranga. Quando o identifiquei, sorri. Ele, do alto de sua elegância e austeridade, sorriu também. Parei na frente dele e o cumprimentei, chamando-o de Sr. Ismael Ivo. Acho que tive necessidade de contato físico com aquele homem tão admirado, estendi a mão e ele a aceitou, e me olhava, tentando me reconhecer, talvez. Ele não me conhecia, por suposto, mas, sim, eu me comportava como alguém próximo a ele. Encantada, agradeci por tudo que ele havia feito por nós. Ismael Ivo respondeu de um jeito terno, ainda sorrindo, “e faço”! Sim, o Sr. faz, eu sei. Agradeci outra vez e nos despedimos. Embora devastada e em luto coletivo por mais esta perda irreparável, sou uma pessoa feliz porque um dia Ismael Ivo retribuiu meu sorriso, apertou minha mão, pude olhar nos seus olhos e agradecer.

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