Entrevista de Cidinha da Silva no blogue da editora Autêntica
Como falar sobre racismo com crianças?
Penso que todos os temas devam ser tratados com as crianças, inclusive aqueles relacionados às violências, de maneira indistinta, pois elas precisam aprender a se defender. Do ponto de vista da literatura, o grande desafio é a construção de uma linguagem que respeite os processos cognitivos delas, ou seja, que não as atropele, mas também, que não as subestime.
Qual é o impacto da representatividade quando se inicia desde a infância?
As pessoas merecem e precisam se ver e a seus iguais em situações positivadas que funcionam como insumos e como espelho para que construam imagens positivas de si e de sua forma de estar no mundo.
Com toda a sua experiência na área da Educação, você vê diferença no processo de socialização entre as crianças que têm acesso a esse tema e as que não têm?
Sim, sem dúvidas. A criança branca que não passa pela problematização das desigualdades que o racismo engendra crescerá acreditando que as coisas “são assim mesmo”, ou seja, que existem lugares de superioridade para as pessoas brancas e de subalternização para as pessoas negras e indígenas. Se o aterro das desigualdades não for revolvido, as crianças aceitarão a naturalização das desigualdades raciais. As crianças negras e indígenas, por outro lado, se forem afastadas dos debates raciais, como forma de pretensa proteção, crescerão fragilizadas e sem dispor de ferramentas adequadas para se defenderem e para forjarem as mudanças necessárias no sentido de combater a subalternização e de construir outro ethos para que possam existir com dignidade e humanidade plenas.
Quais são as principais diferenças entre escrever sobre temas como africanidades, feminismo e racismo para adultos e para crianças?
Os três temas por si mesmos são distintos, certo? Não são orientados pelo mesmo diapasão. O racismo é uma expressão perversa da humanidade, algo estúpido e cruel sem qualquer nuance de aceitabilidade. O feminismo é um movimento político protagonizado pelas mulheres em busca de sua emancipação. Como toda luta política, enfrenta a crueza daquilo que se quer derrubar (o patriarcado), a beleza do processo de luta, das relações de solidariedade na busca de direitos, das conquistas e transformações. As africanidades são, a um só tempo, o fundamento e o resultado das lutas emancipatórias travadas por pessoas negras em diáspora, e o construto das Áfricas possíveis modeladas por lugares onde fomos desterrados. A principal diferença ao abordá-los com pessoas adultas ou crianças será a linguagem requerida para dialogar com estas ou aquelas.
O que os leitores podem esperar de O mar de Manu?
Trata-se de um livro bonito, bem cuidado, costurado por uma linguagem de poesia, beleza e sutilezas. As ilustrações de Josias Marinho são belíssimas e casaram-se harmoniosamente com o texto. Manu, nosso personagem central, nos convida a viajar a partir da nossa capacidade de sonhar e de inventar mundos onde caibam nossos infinitos em expansão.
VEJA A ENTREVISTA COMPLETA EM: https://grupoautentica.com.br/blog/post/a-yellowfante-da-as-boas-vindas-a-cidinha-da-silva-e-josias-marinho/1180
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