Muito obrigada, Léa Garcia!

A querida Léa Garcia para mim era sinônimo de tenacidade e elegância. Fortaleza envolvida em doçura e generosidade. Uma mulher do seu tempo, do tempo-agora, e que vivia em conformidade com o tempo da criação artística e da ética, suas bússolas. Na primeira vez que a vi e conversei com ela foi num lançamento de livro meu, à volta de 2009, na Kitabu. Ela queria adaptar duas crônicas do meu primeiro livro para lançar-se como diretora de cinema e foi até lá para iniciarmos um papo. Um dos textos era “Aconteceu no Rio de Janeiro”, sobre uma senhora de 80 anos que espiava os garotões na praia sob o manto de quem busca pães com hora marcada na padaria. Lembro-me de como ela me impressionou, confirmando tudo o que Joel Zito Araújo já havia me dito sobre ela. Enquanto recepcionava três pessoas do Paraná, com entusiasmo quase juvenil, apresentei Léa Garcia a elas como uma “celebridade”. Sim, confesso minha total infelicidade ao usar essa expressão. Léa, em resposta, ergueu a cabeça na diagonal, suspendeu o olhar, tremelicou os lábios e nos disse (teve a delicadeza de não me corrigir diretamente): “Celebridade, não. Eu sou artista”. Voa, querida. Você nos ensinou tanto e abriu portas para todas as gerações que vieram depois da sua. Muito obrigada.

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