O querido Pentes recomendado no Portal Aprendiz

O querido Pentes recomendado no Portal Aprendiz, no quesito ancestralidade, cultura e identidade negra. O Pentes alcançou a marca de 10.000 exemplares com a 3a reimpressão em 2018.
Viva!!! Dez mil! Você imagina o significado disso para uma autora independente como eu que publica por casas editoriais pequenas e médias? A magnitude disso num mercado editorial que leva entre dois e três anos para fazer circular uma edição de mil livros em livrarias? É feito para agradecer a Orixá batendo a cabeça no chão, como deve ser.
Foram 3.000 exemplares na primeira tiragem comercial. Depois 4.000 para venda institucional à Prefeitura de Belo Horizonte, via política pública de fomento à leitura, na qual estudantes recebiam um pacote de livros para iniciar um cantinho de leitura em casa; mais 455 exemplares para outra política pública, desta feita de formação de acervo em bibliotecas escolares. Em 2015 a primeira reimpressão comercial e em 2018, a segunda.
Ok, ok, ok, para gilbertear um pouco, você que gosta de fazer contas contabilizou 9.455 exemplares de “Os nove pentes dÁfrica” em circulação. Não tem problema, considere que os 545 que faltam para completar 10.000 são licença poética da divulgadora/autora.
O Pentes é meu livro mais querido, aquele que me deu a certeza de ser escritora depois dos dois primeiros livros, nos quais eu achava que, simplesmente usava a escrita para fazer política. O Pentes exigiu mais de mim, me fez criar, reescrever a partir de leituras críticas, me fez entender a importância e a necessidade de trabalhar a linguagem até atingir o resultado que se quer. Vida longa ao amado “Os nove pentes d’África”.

5 livros infantis sobre ancestralidade, cultura e identidade negra

Saber a história dos quilombos brasileiros ou de reis e rainhas da África, olhar-se no espelho e admirar os cachos formados no cabelo, os traços de origem africana, ter orgulho de sua cor. Estes são alguns momentos marcantes  no processo de reconhecimento da identidade e valorização da ancestralidade e da cultura afro na vida de uma criança negra.
Por isso, em homenagem ao Dia da Consciência Negra, o Portal Aprendiz convidou autoras do catálogo de Escritoras Negras da Bahia para recomendar publicações voltadas ao público infantil que abordem esse tema e tenham sido criadas por homens e mulheres negras. São histórias que prezam pela representatividade, diversidade e valorização de uma cultura que resiste às tentativas de apagamento e ao racismo estrutural da sociedade brasileira.
“As crianças das gerações passadas cresceram ouvindo na escola histórias em que o negro não existia, uma construção estereotipada intencionalmente no intuito de erradicar a força dessa raça. Fomos crescendo sem nos ver nas famílias apresentadas em livros didáticos ou pela mídia”, resume Aidil Araújo Lima, contista e cronista natural de Cachoeira (BA), que integra o acervo do projeto.
Criado em 2017 pela jornalista e também escritora Calila das Mercês, o Escritoras Negras da Bahia busca reverter esse cenário, registrando a memória e catalogando as escritoras baianas e negras da contemporaneidade. A proposta é ampliar as vozes que compõem a produção literária do estado, inspirando novas referências. Atualmente o catálogo conta com 19 escritoras, poetisas ou contistas de oito cidades diferentes da Bahia.
Confira a lista elaborada pelas autoras:

1) Cada um tem seu jeito e cada jeito é de um
Livros contra o racismo: Cada um com seu jeito, cada jeito é de um
Autor: Lucimar Rosa Dias
Recomendado por: Érica Azevedo
Apresentar o universo literário à criança é essencial para despertar o gosto pela leitura, ao mesmo tempo que auxilia na assimilação de valores sociais.  E este é um livro que leva o leitor a perceber com naturalidade as diferenças existentes na família e na sociedade.
Luanda, a protagonista, é uma menina que gosta de diversas brincadeiras, que adora sua pele, seu sorriso e “seus cabelos cheios de rolinhos”. Reconhecer as diferenças entre as pessoas e valorizar o jeito de cada um é um dos aprendizados da obra, algo fundamental para a formação das crianças.
 2) Betina
Livros contra o racismo: Betina
Autor: Nina Lino Gomes
Recomendado por:  Aidil Araújo Lima
A história de uma menina negra que adora seus cabelos crespos e brinca com eles, inventando penteados para as irmãs, vivendo harmoniosamente com suas colegas brancas, que se encantam com seu cabelo. Quando a avó penteava os cabelos de Betina, elas conversavam, cantavam e contavam histórias. Com o passar do tempo Betina é convidada para falar sobre a história de seu povo que foi passada de geração em geração. Orgulhosa lembra-se da avó, havia ido de encontro aos antepassados, sorri.
 3) Bucala: a princesa do Cabula
Livros contra o racismo: Bucala
Autor: Davi Nunes
Indicado por: Ana Fátima dos Santos e Lidiane Ferreira
 Ana Fátima dos Santos: A publicação, além de contemplar a imagem da criança negra amando seu cabelo, tendo consciência da importância de seus ancestrais negros, está reunida com sua família na trama, respeita os animais e seu território, que é o quilombo. O livro também traz um pouco da história do Quilombo do Cabula e reforça a ideia de respeitar os mais velhos em idade e sabedoria.
Lidiane Ferreira: Mesmo estando num momento doloroso para a população negra, tal como foi o colonialismo, Davi Nunes evidencia, através da nossa pequena protagonista, que não só de tristeza vivia (e vive) o povo negro. Coberto de ludicidade e profundidade, evidencia o respeito aos mais velhos, o amor entre a família e a comunidade, não limitando a capacidade de interpretação e o olhar crítico da criança. Outra questão muito bem-apresentada está na valorização da estética negra.
A obra foi publicada em 2015 pela Editora Uirapuru e pode ser apreciada por leitores iniciantes,  por estar escrito em letras maiúsculas, o que facilita e dá mais autonomia aos nossos leitores mirins nessa viagem.
4) Os nove pentes d’África
Livros contra o racismo: Os nove pentes d'África
Autor: Cidinha da Silva
Indicado por: Lidiane Ferreira
Cidinha da Silva, em Os nove pentes d’África, busca evidenciar a sabedoria, assim como a solidez dentro de uma família negra brasileira. A narrativa foge dos estereótipos de uma família negra desestruturada, evidenciado a sabedoria dos personagens, bem como as relações afetivas, tanto entre a família por inteiro como no negro-amor de Francisco Ayrá e Berna. O ponto central da narrativa se dá na entrega dos pentes aos nove netos. Ilustrada por Iléa Ferraz, na obra, cada pente possui uma característica diferente, o que possibilita pensar mais profundamente os personagens e a magia que este presente carrega.
 Os nove pentes d’África nos envolve do início ao fim, através da importância da ancestralidade para a manutenção de valores civilizatórios africanos. Apesar de ser classificado como um texto literário juvenil, acredito que pode ser lido por crianças a partir dos oito anos, pois seus curtos capítulos possuem independência, podendo assim, serem lidos também de forma isolada, sem que a compreensão seja prejudicada
 5) Adumbi
Livros contra o racismo: Adumbi
Autor: Mel Adún
Indicado por: Lidiane Ferreira
Publicado em 2016 pela editora baiana Ogum’s Toques Negros, o conto Adumbi é o segundo volume da série Contos de Mel e narra a história de Adumbi, um menino esperto que, como muitas crianças, se dispersa no meio de algum pedido que os pais (ou responsáveis) o fazem. Adumbi perdeu-se em brincadeiras com suas amigas conquém. E o pedido da avó? Onde foi esquecido? A partir daí se inicia uma grande aventura, com direito a ansiedade, medo, muita magia e ludicidade.
A obra também faz referência ao Candombl, ao colocar no enredo o porta-voz de Orumilá, o Ifá. Adumbi, com sua ilustração rica em detalhes e uma escrita envolvente, deve ser um livro de cabeceira, por sua ludicidade e capacidade de cultivar valores civilizatórios africanos.

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