Um abraço para a professora Vanicléia Silva Santos, da UFMG


Por Cidinha da Silva
Parece que professora Vanicleia Silva Santos, historiadora negra, concursada no departamento de História da UFMG, departamento onde estudei, realizou com seu grupo de pesquisa um seminário sobre África Pré-colonial. Houve apenas 28 trabalhos inscritos (10 de pessoas negras e 18 de pessoas brancas) e todos foram aceitos. Uma das mesas, seguramente composta por afinidade temática, como costuma ser na organização de congressos acadêmicos, desenhou-se com 4 pesquisadores brancos. Isso foi suficiente para que desencadeassem um linchamento virtual contra a professora.
A única coisa que me ocorre perguntar é: em que mundo nós estamos? O espaço específico que nós temos para pesquisadores negros é a Associação Nacional de Pesquisadores Negros - ABPN, que promove de dois em dois anos o COPENE - Congresso Nacional de Pesquisadores Negros. Ali as pessoas brancas não entram como apresentadoras de trabalhos, palestrantes, conferencistas, não têm protagonismo e, se aparecem, é para aprender e eventualmente como convidadas em alguma coisa bem específica. Já vi uma convidada branca falar de seu estudo sobre branquitude, por exemplo. Além dessa iniciativa, existem comissões, grupos e/ou coletivos negros dentro de associações de classe.
Entretanto, uma professora de uma universidade pública não tem condições ou autoridade para dizer e muito menos para determinar que só pessoas negras pesquisem o continente africano. Não está na alçada dela. O que nós, negros, podemos e devemos fazer é discutir a eventual perspectiva colonial de diversos, quiçá, inúmeros, pesquisadores brancos que se debruçam sobre África, Se debruçam mesmo, se deitam em cima do continente e produzem suas teorias, ora subalternizantes, ora redentoras.
Então gente, bora ver contra quem a gente mira nossa artilharia. Não é possível que a gente ataque uma das nossas como se fosse inimiga e que ela tenha de ser defendida pelos brancos. Tudo aí fora está mesmo sendo feito para nos enlouquecer, mas a gente precisa insistir no mínimo de sanidade, sob pena de sairmos por aí rasgando o ventre das pessoas com as quais não concordamos e arrancando-lhes o fígado. A gente não pode naturalizar a perseguição, a tortura e a destruição moral de sujeitos dissonantes na modalidade virtual(a gente, no passado, até achava a dissonância uma coisa saudável). A milícia virtual não é nosso território de ação. Nós não somos milicianos. Ou nos tornamos e não percebemos?

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