Solidão e pandemia
Dois anos de pandemia (e de terapia) parecem ter liberado as pessoas para abrirem o coração sobre a solidão que as acompanha desde muito antes.
As mães, heroínas anônimas e esquecidas, são as campeãs na triste maratona do isolamento e do desamparo. Ninguém vê ou reconhece suas dores, seus medos, os sacrifícios tornados norma em nome do amor egoísta e gerador de conforto para tantos.
Por telefone, uma amiga me diz que “quer encontrar pessoas porque dois anos de pandemia lhe trouxeram a solidão”. Mentira, álibi, a pandemia escancarou a solidão que nos configura desde os tempos que precedem o Corona. Não só aquela solidão experienciada pelos adoradores da comunicação vazia das redes sociais, mas, a solidão de envelhecer, de não desfrutar de um amor romântico, de figurar nas gôndolas inferiores do mercado afetivo-sexual. Solidão de quem investe na intelectualidade como estratégia de sobrevivência emocional a todas as outras faltas e ao desaprendizado da convivência com humanos. Solidão de quem adoece, fica fragilizado e não sabe se terá uma pessoa próxima que lhe ofereça companhia e cuidados. Solidão de quem se vê desempregado, de quem já desistiu de procurar emprego, de quem perdeu tudo e está vivendo nas ruas.
Solidão é lava que cobre tudo, cantou o poeta Da Viola, e acrescentou que ela, a solidão, brota de um coração resignado e mudo no compasso da desilusão.
Nesse diapasão, o desencanto vem ocupando nosso dentro desabitado, esse lugar opaco, desprovido de mundo interior, muito antes da tragédia pandêmica de 2020.
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