O brasileiro comum e o bumbum do Hulk!

Por Cidinha da Silva



O mundo masculino em suas versões machista e masculinista está em cólicas. Por motivo muito previsível, a exposição na vitrine consumista dos corpos de um belo espécime do gênero, publicamente desejado por milhares de fãs que destacam uma das partes de seu corpo atlético, as nádegas avantajadas, desenhadas e bonitas, incomuns aos homens ordinários.

Mas, sejamos sinceras, a bunda é apenas uma parte, a mulherada quer degustar centímetro por centímetro do corpo do boleiro Hulk e também as características outras que contribuem para aumentar o fetiche despertado pelo guapo, a saber: a tranquilidade para falar; a sagacidade para responder a questiúnculas de repórteres que pretendem fazer chacota dos nordestinos; certa timidez quando seu sex appeal é abordado nas coletivas de imprensa; certa economia nos gestos em contraste com o corpo enorme; a lealdade na hora do jogo, ao escolher não pisotear o adversário com o porte físico descomunal. Como é sabido, quando se trata de opção sexo-afetiva, a maioria das mulheres quer saborear o todo, mesmo que enfatize parte.

Os machistas estacaram na pré-adolescência, quando perscrutavam o pênis do vizinho no mictório para medir o tamanho. Eles se rasgam de ciúme, inveja e ressentimento porque outro homem que não eles, é desejado. Eles (em delírio machista) conseguem achar que “têm tudo” o que Hulk tem e as mulheres que endeusam seu corpo e o admiram “sofrem de falta de homem.” Falta que, no ápice do delírio, eles acham que poderiam suprir, já que, para eles, lepo lepo é sempre a mesma coisa.

Por sua vez, os masculinistas, machos com algum verniz intelectual, sacaram um papo de que as mulheres não poderão mais reclamar da objetificação do corpo da mulher, porque estas estariam objetificando os homens ao enaltecer a bunda do Hulk. Raciociniozinho tosco: como é possível opor uma ação isolada ou pequena, ínfima (mesmo que certo número de mulheres transforme homens de clubes de mulheres e festas privê em peças de carne para admirar, fantasiar, morder e beliscar) quando comparada a décadas de reificação do corpo da mulher em revistas e cines pornôs, na publicidade de produtos consumidos por homens, nos campos de futebol e outros esportes, nos quais os homens predominam? Décadas de esquartejamento em pedaços para consumo in natura? Outra vez se manifestam o recalque, o ciúme e a inveja, acrescidos da presunção de que para satisfazer uma mulher (independentemente de sua orientação sexual, inclusive), qualquer  corpo de homem serve, desde que tenha um pênis, ainda que em precário estado de funcionamento e conservação.

Entretanto, para salvação das mulheres heterossexuais, nem todos os homens são tolos alocados nesses dois grupos. Existem os homens transversalizados pelo feminismo que não se sentem intimidados pela corporeidade fulgurante de outro homem, não estão nem aí para ela. Homens que não estão em disputa com o Hulk, porque o boleiro-guapo tem seus dotes e cada homem seguro tem os próprios. Homens que não se importam que as mulheres, mesmo as que estão a seu lado, desejem outros homens, porque, afinal, eles também desejam outras mulheres e isso é uma questão íntima de cada pessoa. Homens que compreendem que as mulheres têm o direito de tornar públicas suas fantasias, predileções, de explicitar seus desejos, de dar nome ao que gostam e como gostam.

Homens que riem dos machos que, ao ler essa crônica, vão chamá-los de “veados” e afirmarão que homem-macho que se preza continua querendo a mulher no chinelo. Só restará o riso de escárnio, porque, homem de valor gosta de mulheres, gosta mesmo, e quer conviver com elas, de preferência, felizes, plenas e satisfeitas. 

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