Xirê, a brincadeira lírica de Dú Oliveira!
Por Cidinha da Silva
Foi Vanda Machado quem tocou o
segredo. Eu os bem-digo, à leitora do oráculo e ao segredo que verbalizo sem
constrangimento: Xirê, a brincadeira lírica é um livro de ronkó.
Que o digam as mulheres-pássaro,
às quais o homem de Ifá, frágil e contrito, roga que não o olhem, não o alcancem,
não o abracem, não o seduzam para a cópula. Que não estejam férteis ao encontra-lo.
Que não o encontrem. Este, o melhor dos mundos.
O que há para ser dito (a partir
e além do poema) é revelado por aquilo que os de dentro compartilham. Antes da
análise insuficiente da forma.
É o dentro do segredo. O que vive
no interior da pérola fina que se esconde na ostra que nasceu do lodo, como na
canção popular.
A revelação é feita a mulheres e
homens iniciados. Gente lavada pelo vermelho vivo de veias e artérias, não só
pelo encantamento formal do dendê.
No alforje da prosa poética que
intercala os versos, a fonte das especiarias do feiticeiro Guiã. O estojo de costura
do bordador da linhagem polifônica das Áfricas de HampâTé Bâ – quem não se
lembra de Tidijane – de Lampião, rei do cangaço, e de João Cândido, o almirante
negro.
Descompassado. De travessa. Na
nesga. À deriva. Dú Oliveira exuzilha sem trégua. Como quem come na festa de Tempo.
Em movimento.
O menino de Orunmila nos oferece
versos traiçoeiros. Gingadores. Certeiros na cabeçada que derruba a militância,
artistas e intelectuais que folclorizam o segredo, que não vão além do urucum
do dendê.
Xirê, a brincadeira lírica dá
rasteira nos teóricos que analisarão a palavra, mas não entenderão o sopro do
verbo.
Comentários