Impressões sobre o Brasil golpista pós-delação dos irmãos Batista

Por Cidinha da Silva

No mundo impossível em que vivemos desde 17 de abril de 2016 é duro admitir que a declaração / delação / projeto para lavar as mãos de crimes, executados pelos irmãos Batista, trouxeram algum alento para nossa energia em descenso.

Eles atuaram como uma bolsa de sangue (contraditoriamente) bom e saudável injetada na veia de doentes muito frágeis e já incapazes de produzir sozinhos, a quantidade necessária de leucócitos, hemácias e plaquetas para ter vigor. Ânimo. Tônus.

Quem já se achava morto, reanimou-se com as provas de recebimento de propina por Temer e Aécio, o conseqüente afastamento deste do Senado, a prisão da irmã-mentora e a possibilidade real de que o ilegítimo caia por prática de crime de responsabilidade.

Antes disso, a greve de 28 de abril fora um sucesso. O Brasil parou mesmo, inclusive o Brasil profundo manifesto em inúmeras cidades do interior. Mas, isso ainda era pouco quase tudo estava a mercê da manipulação da grande mídia e sua construção de narrativas de sustentação ao golpe midiático-parlamentar que opera em várias frentes e de maneira articulada.

O rádio, por exemplo. A narrativa dos programas de debates da conjuntura política prima pela confusão deliberada. Ora são comentadores que você ouve por cinco, dez minutos e, ao cabo, não consegue saber o que exatamente postulam. Não existem argumentos. É um amontoado de achismos com a intenção de agradar a gregos e baianos.

Outros fixam-se em detalhes de segundo ou terceiro plano, ou mesmo em coisas aleatórias, com o objetivo nítido de desviar a atenção do ouvinte das questões centrais, a exemplo da suposta depredação de prédios públicos em Brasília na manifestação de 24 de maio, em detrimento do foco na necessidade de sangue no Hemocentro daquela cidade para atender aos feridos pela polícia, Força Nacional e Exército, este último convocado por Temer em violação constitucional flagrante. Ou mesmo do assassinato de dez trabalhadores rurais no Pará, como se a violência praticada estado em Brasília não fosse a mesma que matou uma mulher e nove homens de um sindicato de trabalhadores rurais numa nova edição de Eldorado dos Karajás.

Em comum, os cronistas do rádio ameaçam a população pobre e sem acesso a fontes de informação diferentes do rádio e da TV, ouvinte daqueles programas, com o mesmo discurso de “baderna e ataque ao patrimônio público” utilizado por Temer para acirrar a repressão, acrescido de um pavor ao que chamam de “nova Venezuela.”

Nessa toada aproveitam para realimentar o consenso dos golpistas de que “era necessário tirar a Dilma” de qualquer maneira que não fosse pelo voto e ameaçam: “é Venezuela, sim! A Dilma ta querendo voltar, não ta vendo aí? Quer anular o impeachment.”

Ora, reivindicar a anulação do impeachment faz parte da briga jurídica, é um caminho legal diante da comprovação de que não houve crime de responsabilidade, da confissão dos bandidos golpistas e das provas do golpe arquitetado e posto em prática. Não se trata de algo só para “encher o saco” como fez Aécio ao pedir a impugnação da chapa Dilma-Temer, depois de derrotado nas eleições de 2014. Mas, não chegam a discutir sequer a viabilidade política dela voltar ou a acordo político da convocação imediata de eleições gerais, haja vista que seria impossível para ela governar com esse Congresso que aí está.


Não, nada disso. “Tirar a Dilma e manter a Dilma fora” continua sendo ponto pacífico para eles e, para garanti-lo, talvez até resgatem as aposentadas panelas e manifestações de rua orquestradas pelos empresários. O país e seu povo são pano de fundo, são o que menos importa nessa história toda.

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