O olhar detido de Vanusa de Melo sobre o livro # Parem de nos matar!



O que esse livro tem de bonito tem de dolorido.

Comecei a ler Parem de nos matar!, da Cidinha da Silva (Editora Pólen) há uns dois meses, mas parei no primeiro texto.

Tinha começado por "Alguma poesia para chamar o sol e saudar as águas", crônica em que a autora traz a cena do voto da Jandira Feghali na sessão que legitimou o golpe contra a Dilma. Chorei muito. É uma crônica curtinha, mas que teve o efeito de trazer de volta toda aquela encenação que nos tem derrubado tanto até agora. E Jandira, Jean e outros ainda lutando.

Pensei: se já tô chorando com essa, imagina como vou ficar com as outras, que tratam de violência maior. Deixei para ler quando estivesse mais forte.

Na retomada, a epígrafe com a frase na Marielle Franco ("Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?") também me pegou. Não pela frase, que já circula há muito tempo, mas pelo olho de cronista que informa que a frase foi dita em um tweet no dia anterior à morte dela. Está na foto abaixo.

Imagino o quanto essa escrita deve ter sido dolorida para ela...

Termino a leitura com a certeza de que Cidinha é uma das melhores cronistas do nosso tempo, que nada lhe escapa, que ela é capaz de análises profundas de situações que passam como banais pra um monte de gente. Em tudo que acontece, seu olho crítico se abre e sua palavra certeira nos atinge.

O massacre diário à juventude negra assassinada está aqui, mas também outras formas de morte, pela invisibilização da mídia, pelas muitas manifestações de desigualdade racial, pelo racismo recreativo, por tudo que o racismo estrutural produz.

Tem prefácio da Sueli Carneiro.

Esse é um livro que deixa na gente a vontade de escrever uma resenha mesmo, não só um comentário pequeno como esse.

Leia. É pra sair da superficialidade diante dos fatos do dia a dia que escancaram o racismo.



Obrigada, Cidinha Da Silva.

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