Cidadã de segunda classe, um livro de Buchi Emecheta


O livro “Cidadã de segunda classe” (Dublinense), de Buchi Emecheta, foi o segundo romance escrito pela autora. Marcado por tintas autobiográficas fortes, Buchi narra a história da menina Adah, seu desejo de estudar, sua luta para alcançar esse objetivo e as estratégias para chegar onde desejava, uma faculdade de biblioteconomia em Londres e tornar-se escritora. Adah enfrenta uma saga monumental a partir do casamento com Francis quando é explorada pela família do marido, mas ainda é amparada pela tradição familiar Ibo, depois passa a ser explorada pelo marido nos moldes ocidentais-capitalistas, embora se mantenha atravessada todo o tempo pelas tradições que povoam sua memória, seu imaginário culpado de testemunha de Jeová, as obrigações com os filhos, com os quais, apenas ela se preocupa e seus sonhos que vão morrendo no próprio corpo, alvo de incontáveis violências.
A história de Adah é a de alguém tão oprimida, explorada e violentada que chega a esquecer-se de si. É o trauma de um dos partos que quase lhe rouba a vida que a desloca da letargia e ela volta a perceber-se como uma pessoa. É tudo muito triste, dolorido e sem saída, então se você estiver emocionalmente fragilizada durante essa quarentena, não recomendo a leitura, pois você vai piorar. Não espere uma história de superação, você não vai encontrar. Eu, pelo menos, não achei.
Se você pretende conhecer a obra de Buchi Emecheta (existem três livros publicados no Brasil, todos pela Dublinense), recomendo que observe a ordem de escritura, não de publicação para sequenciar a leitura. “No fundo do poço” é de 1972; “Cidadã de segunda classe” é de 1974 e “As alegrias da maternidade” é de 1979, este, um livro primoroso. Buchi escreveu 15 romances. Talvez por carregarem muita dor ainda em processo de decantação, os livros autobiográficos da autora não têm a técnica apurada do “Alegrias da maternidade”, quero dizer, o “Cidadã de segunda classe” é um livro que se impõe muito mais pelo enredo avassalador do que pelo trabalho de construção de linguagem e domínio narrativo. Para mim, a leitura de toda a obra vale demais, Buchi Emecheta é uma autora vigorosa e sagaz.

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