Coletivoz em entrevista ao Favela é Isso Aí, em Belo Horizonte
O projeto Coletivoz surge em 2008 a partir da criação da Cooperifa - Cooperativa dos Poetas das Periferias, realizada em São Paulo, cujo o idealizador é o poeta Sérgio Vaz. A idéia é a realização de saraus com a participação de autores e moradores da periferia, sujeitos geralmente excluídos do processo de produção literária no país.
Em Minas Gerais, o idealizador do projeto Coletivoz é Rogério Coelho. “Sempre tive a idéia de manter uma ação que fosse permanente no bairro e quando conheci a Cooperifa, achei uma ótima alternativa, principalmente por que me chamava pelo lado literário”, conta. Rogério estudava a literatura de Férrez em um projeto de iniciação cientifica, cujo tema era “Linguagem, Território e Inclusão Social na Literatura Marginal de Férrez”, “a partir disso, direcionei o plano de dissertação de mestrado para a literatura marginal, tema que eu aprofundava mais sob a questão dos objetos que permeiam as relações sociais na literatura marginal/periférica. Porém, não foi apenas a dimensão acadêmica que me fez pensar no sarau de periferia”.
A Falta de espaço e de oportunidade de circulação também motivaram Rogério Coelho na produção do Coletivoz. “Poeta de fundo de gaveta”, como o próprio se denomina, ele buscava mais do que compartilhar suas poesias apenas com os amigos. “Decidi unir a necessidade de dar voz à periferia, assim como conhecer a produção cultural das margens de BH, com o prazer de ter encontro marcado com os poemas toda semana”. A partir daí Rogério juntou-se com algumas pessoas ou como ele mesmo diz a alguns articuladores, que “são de extrema importância para a criação e continuidade da Coletivoz”.
Literatura Marginal.
Segundo a pesquisadora, Érica Peçanha do Nascimento, no artigo “Por uma interpretação sócio-antropológica da nova literatura marginal”, no Brasil o termo “literatura marginal” surge nos anos 70 quando no calor da ditadura, artistas buscam novas estratégias de circulação de textos fora do circuito editorial, com o objetivo de tentar burlar a censura. Estes artistas e poetas passam então a expor seus textos em locais alternativos como muros, portões, postes, camisetas ou em folhetos que eles mesmos imprimiam. Subvertendo os padrões, eles produziam, divulgavam e faziam circular o seu produto, sem o apoio de grandes marcas e sem passar pela repreensão. É o que afirma a pesquisadora. Por volta do final dos anos 90 houve uma ressignificação do termo “literatura marginal” que passou a ser usado para designar uma série de escritores com perfil socioeconômico semelhante.
“Ganhando” pessoas a partir da palavra.
O acesso a equipamentos culturais é um dilema que envolve diretamente as periferias e seus moradores. Rogério acredita que em cada sarau realizado ganha-se uma pessoa com a poesia. “Sinto que as pessoas da região estão começando a entender que a cultura não está lá no centro ou em outro lugar, mas sim que elas estão, acima de tudo, participando de um movimento cultural”.
Rogério também acredita que “a literatura para um país como o Brasil, infelizmente, ainda é vista como artigo de luxo (e os poetas marginais louvam o trocadilho: “é artigo de lixo mesmo”). O sistema público de educação se esforça para entregar o básico, que exclui diretamente a literatura. Hoje a escola tem de combater a violência antes de combater a educação de má qualidade”.
Poder público e políticas de incentivo à leitura.
Ao ser questionado sobre como ele percebe os programas de incentivo à leitura Rogério acredita que ainda existe um certo descaso. “Conheço várias pessoas/grupos que já realizam trabalhos culturais na comunidade há mais de 25 anos e ainda nem sabem o que é uma lei de incentivo”.
Rap: poesia musicada da periferia.
Rogério acredita que o rap deve ser considerado um gênero poético contemporâneo. Segundo o pesquisador “toda a juventude do Rap está ainda muito tímida no fazer poético, alguns ainda não sabem que o que fazem é pura poesia! Em São Paulo na Cooperifa vimos muitos rappers recitando no sarau. Sempre vou aos movimentos de Rap para falar da importância dessa voz. Há muitos poetas marginais de grande potência na periferia, porém ainda sem algum trabalho concreto ou perspectiva de algum tipo de publicação”. Ele ainda afirma que “o rap das periferias de BH é a própria cara da poesia periférica. Aquela que grita contra todo o tipo de descaso público e injustiças. Sempre digo que a periferia cresce em proporções extremas, tanto com os problemas quanto com as possibilidades de ressurgir deles através de uma voz diferente”.
Aonde, quando?
O Coletivoz é realizado as quartas-feiras, a partir das oito horas da noite, no bar do Zé Herculano que fica na esquina das ruas Carmelita Coelho da Rocha com Carminha Guimarães, no bairro Independência, no Barreiro".
Sugestão de fontes:
1. Rogério Coelho – idealizador do Coletivoz
Contato: 8705-5890
Acesse: www.coletivoz.blogspot.com
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