Sobre envelhecimento, gênero e sexualidade
Por Cidinha da Silva
O senhorzinho tinha 100 anos e uma inteligência muito viva, mas o corpo, como esperado, dava sinais de desgaste do tempo, contudo, ele insistia em falar sobre o sexo semanal que mantinha com a esposa 60 anos mais jovem. E ele dava no couro, conforme alardeava nas entrevistas.
Viagra não deveria tomar, porque o coração de dez décadas não aguentaria. Catuaba? Quem sabe? Se tinha prótese peniana, ninguém sabia, isso ele não revelava. O mais provável é que tivesse desenvolvido jeitos de viver sua sexualidade de homem idoso que não passavam pela performance sexual de um garoto de 20 ou 30, afinal, é sabido que muitos, aos 40, já começam a ratear e forçados a deixar de ser os garanhões infiéis de décadas anteriores, passam ao lugar de maridões bem comportados que levam as esposas para dançar e assistir shows, torcendo para que fiquem bem cansadas e durmam ao chegar em casa.
O caso muda quando uma mulher nonagenária é casada - ca-sa-da - com outra mulher 40 anos mais jovem e elas têm afetividade que é publicamente conhecida e sua vivência da sexualidade é reservada, diz respeito ao casal, como costuma ser entre pessoas adultas e maduras. O que elas fazem, o que deixam de fazer, com que frequência, utilizando-se de quais métodos e delícias diz respeito às duas, a mais ninguém. A cumplicidade aparece em outros aspectos. Elas não fazem alarde da intimidade que experimentam.
Aí vêm uns homens adultos, em seus arroubos de macheza e insegurança e esvaziam as dimensões eróticas da relação do citado casal de mulheres, como se uma não fosse mulher da outra. Uma mulher que é mulher de outra mulher, entenderam?
Não adianta tentar Infantilizar as duas ao chamar a mulher mais jovem que é companheira, amante, esposa da mulher mais velha de "cuidadora". Cuidadora da velhinha, não é isso que você quer dizer, bebê? Que doença, que incapacidade atroz de respeitar a sexualidade alheia, a sexualidade das mulheres, no caso.
Eu não queria chatear vocês, não, mas vou contar um segredo: as velhinhas lésbicas roçam, viu? E reza a lenda que estão bem mais felizes, satisfeitas e saltitantes que as esposas de sessentões, cinquentões e até de quarentões espalhados pela aí.
Cuidadora, sei. Iludam-se, já que vocês precisam disso.
Foto: Fernanda Montenegro e Nathália Timberg - quase 200 anos num beijo de novela
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