Uma palavra para a caçadora


Por Cidinha da Silva

Iyá Stella de Oxóssi se foi. Agradecemos à caçadora que alimentou tanta gente.

A lembrança mais forte e próxima que tenho de Iyá Stella foi a cerimônia de seu aniversário de 80 anos, à qual compareci a convite uma amiga, filha do Afonjá. Fui receosa, achando que seria festa de grandes nomes e ostentação e me surpreendi diante da simplicidade da reunião caseira. Estava ali sua Comunidade de Asè, em celebração reverente e alegre de mais uma primavera da matriarca.

Que alegria poder morrer depois de uma longa e intensa vida vivida, depois de anciã, principalmente para nós, gente negra. Nós que não temos podido envelhecer. E ao lado da mulher amada, como Iyá Stella escolheu.

Que alegria não aceitar o lugar de quem envelhece e tem seu livre arbítrio sufocado, roubado. A venerável senhora morreu amparada pela companheira, Graziela Domini, a mulher a quem amava e com a qual compartilhava a vida.

Que seu retorno ao barro primordial seja ladeado de flores e canto de passarinhos. Seguiremos por aqui comprometidas em honrar sua liberdade de existência e um de seus principais ensinamentos: "o que não se escreve, o vento leva".

Foto by Antonello Veneri

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