Publicar por (e com) editoras de mulheres
Durante uma mesa de debates,
quando nós, as escritoras convidadas, recebemos uma pergunta sobre publicarmos
ou não por editoras de mulheres, uma colega posicionou-se defensiva e
argumentou que não era fácil encontrar tais editoras, eram muito poucas. Na minha
resposta, num exercício rápido, listei as editoras pelas quais eu publicava e
me dei conta de que a maioria era de mulheres. Não falo aqui de serem dedicadas
a questões de gênero, falo de serem empresas (ou coletivos) cujas proprietárias
e/ou dirigentes são mulheres.
Desde então essa questão me
acompanha e passei a me perguntar porque
eu não destacava tanto o fato de publicar por editoras de mulheres antes
daquela fatídica pergunta. A resposta é que para mim isso sempre foi natural, eu
me sinto muito bem entre mulheres, confio nas mulheres (em nós) e,
consequentemente, procuro estar entre nós.
Entre mulheres o papo costuma ser
reto: gostei, não gostei; quero desse jeito e não de outro; isso precisa ser refeito
por esse e esse motivo. Em regra, existe
uma coisa fundamental para o bom andamento das relações, a escuta.
Eu e Mazza, por exemplo, a rocha tectônica da Maza Edições, estamos
juntas há 13 anos e publicamos quatro livros, um deles, Os nove pentes d’África
(2009), meu campeão de vendas com 13 mil exemplares em circulação. Além desse,
um livro esgotado (Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor! 2008); um livro
em terceira reimpressão (Cada tridente em seu lugar, 2007) e outro em segunda
(Baú de miudezas, sol e chuva, 2014). Nem tudo são flores, a gente diverge,
discute, às vezes briga mesmo, mas a escuta sempre existe, dos dois lados e por
isso seguimos lado a lado desde meu segundo ano de carreira.
Publico com a Pallas desde 2016
(Sobre-viventes! e Um Exu em Nova York); com a Jandaíra desde 2018 (# Parem de
nos matar! e Kuami). Em 2016 publiquei com a Me Parió Revolução meu livro de
poemas “Canções de amor e dengo”, disponível no site da editora para download gratuito. Em 2020 chega uma
nova editora de mulher para encorpar meu time, a Oficina Raquel que publicará a
segunda edição do querido “Oh, margem! Reinventa os rios!”
Publiquei por outras três
editoras de mulheres, com as quais não tenho mais vínculos, Nandyala (2011), Conversê (2013) e Ijumaa (2016).
Na soma, publiquei por oito
editoras de mulheres, nove, porque a Kuanza Produções, minha editora, também me
publicou.
Em breve chegará a décima editora
de mulher para o meu portfólio, com muita alegria publicarei pela Figura de
Linguagem (tomara que minha editora, Fernanda Bastos, não brigue comigo, pois
ela ainda não tinha me autorizado a me divulgar como nova contratação da casa).
E tem a décima primeira, mas essa só conto depois de assinar o contrato. Por enquanto,
esse texto é só para registrar nos anais da História que houve uma escritora
negra que publicou um montão de livros por um monte de editoras de mulheres.
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