Se a questão fosse rola, os machos a resolveriam entre si

Por Cidinha da Silva



O problema não está na falta de rola, periquita ou pomba, mas em acharmos que o pastor nazi-evangélico está abrindo o rabo como pavão apenas para se exibir. Essa é a leitura jocosa e infantil de um fenômeno de violência e arbitrariedade pelos olhos do jeitinho brasileiro.

Temos todos, o direito ao riso, à ação redentora do jornalista inteligente, correto e bonitão que nos vinga ao expor o pastor nazi-evangélico ao escárnio. Escárnio machista, é verdade, dito aos homens que gostam de homens e se escondem atrás da homo/transfobia (insinua-se que esse seja o caso do ser das trevas ridicularizado), correlato à falta de homem atribuída às mulheres autônomas e posicionadas no mundo. Mas esse não é o foco, por ora, nos redimimos em alguém que rasgue a carne da hipocrisia dos que tratam um bandido como excelência.

As pessoas estão cansadas de tantos absurdos e querem desopilar e riem, e perpetuam a piada. O risco é minimizar o projeto fascista em curso pelo jeito descontraído de ser do povo brasileiro. O negócio é sério, o babado é forte e exige reação institucional para impedir, politicamente, a emergência e o ódio dos pequenos fascistas, para que não possam surgir os grandes, que poderão transformar ações pontuais em massacres gigantescos, já alertou tarso Genro.

As bancadas BBB, boi, bala e bíblia agem impunemente no Congresso, nas Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas em nome de interesses espúrios e respaldadas pela imensa população que as elegeu e que se identifica com suas plataformas políticas. Os tubarões da comunicação se encarregam de disseminar o ovo da serpente nazista.

Vozes isoladas como a de Florestan Fernandes Júnior, jornalista arguto e sério, asseveram termotivos de sobra pra acreditar que um jogo perigoso está sendo realizado pela extrema direita num movimento que envolve parte do Ministério Público, Justiça Federal, oposição derrotada nas urnas e os senhores da comunicação. A prisão dos donos da Odebrecht deveria ser motivo de comemoração, mas não é. Nesse teatro montado no Paraná a intenção não é desmontar as operações promíscuas das empreiteiras com os poderosos, mas sim produzir condições para se prender o ex-presidente Lula. A maior doadora de recursos para os Institutos FHC e Lula, a que mais dinheiro deu para as campanhas eleitorais de Aécio Neves e Dilma sabe que a linha tênue que o separa do papel de vilão para o de herói é uma delação verdadeira ou não contra o ex-presidente. Quando isso acontecer Dilma será derrubada como foi João Goulart em 64. Tudo com um ar de legalidade. Nos últimos meses vimos desaparecer das manchetes as denúncias de contas secretas no HSBC da Suíça que envolvem bilhões de reais depositados ilegalmente por políticos, empresários e donos dos meios de comunicação. Vimos as denúncias de corrupção na CBF que envolvem políticos e emissoras de televisão desaparecer em apenas uma semana. O mesmo se deu com as denúncias das licitações fraudulentas no Metrô de São Paulo. Até a fraude fiscal de quase 1 bilhão de reais da maior emissora de televisão deixou de ter importância, isso sem falar no mensalão do PSDB de Minas. Por tanto, o país não está numa cruzada contra a corrupção, mas num jogo já conhecido de golpe para a retomada do poder pelos setores que sempre mandaram no país”.

Tudo está valendo, inclusive matar. As pedras lançadas contra os praticantes do candomblé ferem a cabeça de crianças, aviltam a dignidade, e dependendo do lugar da cabeça em que acertem, matam. O menino de 14 anos é apedrejado até a morte porque homens da localidade onde morava o julgaram gay. Meninos e homens negros são mortos como ratos, mais de 80 por dia. Templos religiosos não-evangélicos são depredados, imagens de santas católicas recebem jatos de urina daqueles que demonizam tudo o que não seja a crença deles. Túmulo de líder kardecista sofre vandalismo. Médium espírita é assassinado dentro do local onde desenvolvia trabalho espiritual de cura. Ialorixás enfartam e morrem diante da difamação de sua crença e do apedrejamento de seus templos. Terreiros de candomblé e umbanda são expulsos das favelas pelos traficantes, orientados por pastores nazi-evangélicos. Nesses lugares geopolíticos vestir-se de branco tem sido proibido desde o início dos anos 2000 e a cada dia, como no início do racista século XX, casas de candomblé e umbanda são multadas e até invadidas e fechadas sob pretexto do barulho dos tambores.

Tempos sombrios que exigem ações constitucionais de combate aos ovos do fascismo enquanto temos Constituição. Os exércitos da extrema direita estão armados e atuam de maneira orquestrada. O Taliban, o Boko Haram fumam um cigarro ali na esquina enquanto testam o engate da metralhadora, certos de que seu alvo continuará carnavalizando os sinais da guerra e da barbárie.























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