Ainda sobre o feminicida Bruno e a falsa questão de seu direito ou não ao trabalho
A agência
Patrícia Galvão informa que: “Levantamentos feitos pela GloboNews, pelo Portal
de Notícias da Globo, o G1, e pelo Jornal Nacional mostram um aumento no número
de feminícidios em oito de 16 unidades da Federação, em 2019.Comparando os
períodos de janeiro a novembro, em São Paulo, um aumento de 29%; no Rio, 24%;
em Alagoas, 123%; no Amapá, 133%. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança
Pública, em quase 89% dos casos, em 2019, o autor foi um companheiro ou ex-companheiro
da vítima”.
Vocês acham que diante de um quadro estarrecedor como
o exposto acima, aumento de mais de 100% nos casos de feminicídio em alguns
estados brasileiros, eu gastaria meu tempo preciso discutindo se o feminicida
Bruno tem ou não direito de trabalhar depois ter cumprido parcialmente a pena?
A lei lhe faculta esse direito, isso é sabido. As mulheres, por sua vez, têm o
direito de mobilizar-se para que ele não trabalhe como goleiro, treinador de
goleiros, auxiliar de treinador de goleiros, limpador de chuteira de goleiros,
roupeiro, padeiro, gari, ator, apresentador de TV, pastor, em qualquer função
na qual ele mantenha contato com crianças e adolescentes e possa de alguma
maneira, passar a eles a mensagem de que matar uma mulher e matar por motivo
fútil, são crimes que não dão em nada.
Não esperem de mim posicionamentos sobre o
direito ao trabalho que esse e outros feminicidas têm, eles que se valham da
lei e de seus advogados para isso. A mim e às mulheres que se mobilizam para
que o feminicida Bruno não ocupe espaços laborais a partir dos quais deboche da
justiça brasileira, das mais de 500 mulheres agredidas por hora no Brasil e das
organizações que as defendem, bem como de Eliza Samúdio, a mulher assassinada,
esquartejada, cujo corpo foi devorado por cachorros, a nós cabe discutir o
crime, seu contexto e desdobramentos, para que outros homens, crianças e
adolescentes em formação sejam desencorajados de práticas semelhantes. Sempre
que se falar do feminicida Bruno, um homem que nunca admitiu o crime e não se
retratou diante de todas as provas que o incriminaram, o foco deve ser o crime
hediondo, a opressão às mulheres que resulta em violência, morte e impunidade.
Feminicidas, agressores (que muitas vezes só não
se tornaram assassinos porque suas vítimas conseguiram se safar dos ataques de
alguma forma), são péssimos exemplos para crianças e adolescentes. Exemplo
recente foi a atitude de escárnio do cantor sertanejo Victor Chaves (dupla Victor
e Léo), diante da condenação esdrúxula a 18 dias de prisão, aos quais
responderá em liberdade, depois de dois anos transcorridos do processo por agressão
à esposa grávida. A impunidade que os protege, o conluio com a mídia
sensacionalista, as centenas de pessoas dispostas a discutir aspectos
periféricos que obliteram o tema central, ou seja, o descaso com a vida das
mulheres, a violência a que estão sujeitas, a banalização de suas mortes, exigem
aprofundamento.
O direito de um feminicida trabalhar não é pauta
da minha agenda, diz respeito a ele mesmo e às pessoas que julgam esse tema algo
relevante. Não é o meu caso, me interessa que o debate público se ocupe de
todas as maneiras possíveis no sentido de educar crianças e adolescentes para que
não sejam feminicidas ou agressores de mulheres e da população LGBT. Isso
implica também em desconstruir a condição de ídolo de um feminicida como Bruno.
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