Textos de Cidinha da Silva no vestibular da UNICAMP e na prova da Escola de Arte Dramática / USP
Notícia ótima do final de 2019
que não consegui comentar (nem comemorar) a contento foi a escolha de textos
meus para dois dos vestibulares mais importantes do país, o da UNICAMP e o da
Escola de Arte Dramática da USP.
A primeira alegria foi a inclusão
de trecho da crônica “Absurdada”, publicada em “O homem azul do deserto (Malê,
2018), na prova geral de múltipla escolha da UNICAMP. Vários foram os motivos para me alegrar: “O
homem azul do deserto” é o melhor livro de crônicas que publiquei até o momento
(espero superá-lo em 2020), mas, ele vende pouco. É um livro que agrada mais à
crítica especializada, pois tem entrado em algumas seleções institucionais para
compras maiores. As razões de vender pouco no varejo? Não sei, mas especulo que
passem por uma mudança estética
(intencional) na capa do livro, em relação às minhas capas anteriores, e pela
escolha de um título que, à primeira leitura não o vincula às africanidades, tema central e mais conhecido da minha obra. Entretanto,
só mesmo à primeira vista, porque os homens azuis do deserto são os Tuareg, um
povo nômade milenar e encantado da região Norte do continente africano.
Singular também foi a opção dos
formuladores da prova por uma crônica que é uma brincadeira com a língua portuguesa,
na qual abordo falares tidos como errados e sua produção de sentidos certeira.
Outra vez, uma boa surpresa, pois preferiram um texto diferente de minha vasta
produção sobre racismo, assimetrias raciais, africanidades. Um texto da cronista Cidinha da Silva foi eleito
sem preocupação com discursos de representatividade que costumam marcar as
escolhas do trabalho de artistas negras.
Quero crer que a presença desta
crônica no vestibular aponte para possível seleção de livro da autora para ser
lido por milhares de jovens que concorrem a uma vaga numa das universidades
mais prestigiadas da América Latina. Será?
Fiquei ainda mais surpreendida e
satisfeita quando soube que o ensaio “Um tigre não anuncia sua tigritude, ele
ataca”, encomendado pelo Instituto Goethe e publicado em português, alemão e
espanhol no site da instituição, foi o texto (integral) proposto para discussão
aos 50 semifinalistas (3ª etapa) do processo seletivo da Escola de Arte
Dramática da USP. Segundo informações de boteco e metrô, as candidatas e
candidatos eram provocados a ler o texto e depois eram divididos em salas,
acompanhados por professores, nas quais acontecia o debate. Por fim, escreviam uma dissertação a partir das questões propostas no meu ensaio e aprofundadas no coletivo.
Não sei se vocês dimensionam o
significado disso, principalmente por tratar-se de uma escritura que discute
lugares atribuídos às escritoras negras nos mercados editorial e livreiro (que
pode ser estendido às artes, porque o mecanismo racista de operação é o mesmo);
que aprofunda o questionamento às armadilhas discursivas dos conceitos de “lugar
de fala” e de “empoderamento”, disseminados pela internet; que o tempo todo
explicita e tece o meu próprio lugar de enunciação como escritora negra
brasileira, por meio de leitura interseccional do contexto.
Foi bonito. Em passos curtos pelas
bordas, a gente vai conquistando alguma centralidade.
Revista
do Instituto Goethe online:
Texto de
Cidinha da Silva aqui em português:
Em
alemão:
Em
espanhol:
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