Carmen Luz
(Por Fernanda Felisberto) A trajetória de Carmen Luz, 45 anos, é mais uma importante peça que compõe o mosaico da história de vida, de mulheres, negras, militantes e brasileiras. Oriunda de uma família de negros, pobres, de Oswaldo Cruz, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, que foram conquistando melhores espaços através da educação formal e da disciplina, o apelido de Luz, recebeu ainda pequena, dado por seu pai e, mais tarde, ao ingressar na Faculdade de Letras da UFRJ, ganhou uma composição do poeta e músico Mario Makaiba, ficando batizada definitivamente.
Formada em Teatro e Literatura (Graduação e Pós-Graduação pela UFRJ), a dança aconteceu praticamente de forma autodidata. Somente depois de adulta freqüentou aulas da coreógrafa Angel Viana, com quem aprendeu a valorizar toda a sua expressividade.
Coreógrafa carioca, Carmen Luz, diretora da Cia Étnica de dança, é uma artista de várias linguagens associadas à militância e educação.
A Cia. Étnica de Dança e Teatro nasceu há dez anos, fruto da herança deixada pelo Teatro Experimental do Negro(TEN), idealizado por Abdias do Nascimento. Para Carmen e sua então sócia, Zenaide Djadillê, uma companhia de dança e teatro com um corpo de profissionais e uma ideologia baseada nas questões raciais, deveria ser pensada para que novos sonhos pudessem ser estruturados e novas(os) atrizes e atores começassem a surgir além de convencer os céticos.
"É preciso que façamos nossas coisas com prazer, com amor e com muitas ciências. Só assim daremos a volta no mundo, como nossos antepassados fizeram".
O trabalho é praticamente arqueológico, pois incansavelmente traz à tona vários talentos invisíveis que há na comunidade do Andaraí. O projeto pedagógico da Cia. Étnica de Dança e Teatro chama-se Projeto Encantar - Capacitação em Artes Cênicas. O objetivo é promover o desenvolvimento pessoal e social através da arte e, principalmente, a profissionalização em artes cênicas e a geração de renda. Do projeto participam crianças, adultos e jovens moradores de favelas do Complexo do Andaraí e de outras zonas de pobreza. Sobre a temática da companhia. Como uma artista de seu tempo, Carmen conclui “...ganho meu dinheiro, pago as minhas contas, dou força pro meu filho, pra minha mãe e invisto em meus próprios projetos. Sou filha das águas e do ferro. Rezo e pratico exercícios físicos todos os dias. Moro em Botafogo, gosto demais da Mangueira. Minha tarefa é imaginar e erguer minhas imagens. Sou romântica e niilista. Durmo sofrendo e acordo acreditando...”.
Depois de anos de lutas, comemorou a vitória da inclusão no currículo escolar, de História da África e Cultura Afro-brasileira, mas reconhece que se não tiver uma capacitação de professores envolvidos com o processo da escola, a lei não fará parte das práticas cotidianas.
E sobre o tratamento dado atualmente à população negra brasileira e, em especial, às mulheres, não acredita que dar visibilidade a sucessos individuais ou globais ou expor por estereótipos o “caso” dos negros seja um índice real de melhoria do Brasil em suas relações perversas. O racismo e o sexismo continuam mandando no Brasil, mas percebe que negros e negras de todas as cores, mais sensibilizados(as) consigo próprios(as) e com seus pares, não estão se deixando abater. “Isso é um ponto pra nós que queremos viver de cabeça erguida e sobre nossos pés. Acho que em muitos casos começamos a andar de mãos dadas e isso é muito bom! Morreremos menos e condenaremos os assassinos”.
Íntegra em Revista Eparrei n. 06, clic aqui
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