Novas exposições no museu Afro Brasil
(Por Camila Molina, jornal O Estado de São Paulo)
"Como diz o diretor do Museu Afro Brasil, Emanoel Araújo, a instituição coloca diversas exposições em cartaz de uma só tacada para que o visitante vá vê-las aos poucos e para que volte sempre. Desta vez, quatro novas mostras foram abertas ao mesmo tempo no museu: Imagens Perversas e Inocentes, que, com centenas de objetos, põe em destaque a figura do negro; Paisagem do Vento, com telas do artista Kazuhiro Mori; Brasil África - Unidade Original, com fotos e desenhos de Paulo Cesar Soares e Victor Ribeiro; e uma exposição de pinturas e objetos de Rubens Ianelli (leia ao lado).
O visitante deve voltar várias vezes ao Afro Brasil não somente porque as novas exposições se juntam a outras que já estavam em cartaz no museu, mas porque a maioria das mostras é lá feita com numerosas peças. Em Imagens Perversas e Inocentes, por exemplo, estão cerca de 800 itens, entre pinturas, esculturas, gravuras e objetos. O mesmo acontece na exposição Dois em Um, sobre a relação entre o abolicionista José do Patrocínio e o caricaturista e ceramista português Rafael Bordalo Pinheiro, em cartaz há mais tempo, e na mostra sobre o Benin. Enfim, uma ida ao Afro Brasil não é passagem simples - a colocação não é crítica, apenas constatação sobre o perfil da instituição.
O museu é um projeto muito pessoal de Emanoel Araújo. É, desse modo, uma instituição que tem a marca de seu diretor. Além de ser dedicado em sua gênese a tratar da questão do negro e de sua memória (também dos índios), da exclusão social e falar da diversidade - sem deixar de mostrar expressões contemporâneas de artistas não estritamente encarcerados na questão racial - há um caráter cenográfico muito forte e constante nas mostras do museu, uma maneira, como já afirmou Araújo, de seduzir o visitante.
Nesse sentido, vale destacar que Imagens Perversas e Inocentes é feita com obras que pertencem à coleção pessoal de Araújo. Mas não se trata de ser uma amostra de um acervo convencional de arte, mas de uma coleção aberta que o diretor e artista vem formando há anos: nela cabem todos os tipos de obras e objetos de uma longa linha do tempo e de variadas localidades, desde que tenham como mote principal a figura do negro. Dessa maneira, saca-rolhas, relógios, luminárias, materiais publicitários, bonecas, pinturas de Aldo Bonadei, Oscar Pereira da Silva e João Câmara, esculturas, etc., estão instalados todos juntos e misturados no mesmo espaço para que o visitante identifique por si qual imagem considera perversa, qual considera inocente.
'A imagem do negro sempre foi usada de forma arbitrária. Talvez seja a única raça tratada desse jeito: entre o folclórico, o preconceituoso, o perverso e o inocente', diz Araújo, curador da exposição. 'Todo mundo é ambíguo em relação a isso', completa ele, que ainda selecionou trechos de poemas. Em algumas das imagens, o negro é examinado dentro do mito da boa sorte, às vezes, tratado na representação da escravidão. Para citar um exemplo, na embalagem e propaganda antiga de um sabão espanhol, o Jabón Sol, o desenho mostra um negro que fica mais branco ao usar o produto. Mas há também obras que não sugerem nada.
Já a mostra Paisagem do Vento reúne telas recentes - algumas de imenso formato - feitas por Kazuhiro Mori, nascido em 1949 em Itapecerica da Serra, em São Paulo, mas que retornou ao Japão logo em 1955 com seus pais. Valem destaque as obras feitas com os tons do marrom em que Mori 'constrói a forma fluida no espaço também fluido de leveza', como escreve Araújo.
Imagens Perversas e Inocentes, Brasil África - Unidade Original, Paisagem do Vento (Kaze no Fukei) - Kazuhiro Mori e Rubens Ianelli. Museu Afro Brasil. Pavilhão Padre Manuel da Nóbrega. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º, Pq. do Ibirapuera, portão 10, São Paulo, (11) 5579-0593. 3.ª a dom., 10 h às 17 h. Grátis. Até 16/9 "
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