Ruídos do Tridente no IV Leituras Negras, em Porto Alegre
O amigo Paulo Rodrigues,diretamente de Porto Alegre, informa que foi sucesso o "IV Encontro Leituras Negras", no qual foi discutida a primeira edição do Tridente, dia 22 de agosto passado. Vejam alguns dos comentários:
"Das 13 pessoas convidadas, compareceram 8: Eliane Gonçalves, Vera Lopes, Nilda Alves, Jeferson Tenório, Jorge Froes, Sílvia Prado, Marieta Silveira e Paulo Rodrigues, sendo os quatro últimos representantes da coordenação. Quando iniciamos o encontro (todos sentados, formando algo parecido com um círculo) deviam ser 15h, talvez um pouco mais. Iniciou-se pela análise externa do livro: capa, cor, vermelho, relação com Exu. Um colega lê "Cada Tridente em seu lugar". Uma colega fala sobre o modo de trabalho do diretor Jorge Furtado (citado no texto, elogiosamente): não enxerga a questão negra, não permite que o ator dê idías para a montagem de um personagem negro. Fala de outro diretor, Tabajara, que abre discussão com os atores sobre a montagem de personagens negros, porém, ao final, não usa nada do que foi discutido. Fala que entre os dois diretores prefere o primeiro. Outro(a) colega lê "Dublê de Ogum". Um(a) colega fala que vê este texto mais como um conto do que como uma crônica. Seria interesssante, comenta, ver com a Cidinha como ela construiu este texto. Outro(a) colega lê "Xena e Maria Bonita". Este texto evoca comentários sobre a importância de animais, principalmente cachorros, para unir famílias, reabilitar pessoas e, às vezes, casais. Outro(a) colega lê "Angu à Baiana". Alguns dizem que este texto é sem-graça. Outros dizem o contrário: tem um jogo de sedução enorme. Alguém comenta a frase "jacaré de protetor solar à beira da lagoa". (está esperando para dar o bote). Outros comentários que o texto evoca: usou-se o angu, uma comida sem-graça, como pano de fundo para se narrar uma sedução entre mulheres.
Outro(a) colega lê "Papo de Barbearia". Um colega comenta que certas coisas ele só foi se dar conta depois que leu este texto, por exemplo, as partes de um homem onde ninguém pode tocar.Outro colega Lê " Mais um dia dos pais e um homem sem camisa". Este texto evoca comentários sobre propagandas. Fala-se da invisibilidade do negro na propaganda. Da proporcionalidade desrespeitada nas propagandas entre orientais e negros. Os orientais são 1% da população e tinham 1 representante na propaganda que o texto narra, os negros são 44% e também tinham 1 representante na propaganda. Outra pergunta dos colegas: por que só o homem negro estava sem camisa. Outro colega lê "Filhas do Vento". O texto desperta o interesse de alguns colegas de lerem o livro "Paula". A passagem "tornou-se atriz e poeta. Mas não conseguiu representar ... bonita demais ... educada demais ...", evocou alguns comentários: sempre exigem o que não temos, se não temos educação escolar, querem que tenhamos vários cursos, se somos bonitos e educados, dizem que isto é demais, querem alguém não tão bonita. Teceram-se muitos elogios ao filme do Joel Zito. Outro colega lê "Histórias da vó Dita". Alguém sugere que se pergunte a Cidinha como ficou o relacionamento dela com o Monteiro Lobato., pelo que ela colocou no primeiro parágrafo. Monteiro Lobato é tido como um dos escritores mais racistas. Como será que a Cidinha encaminhou esta situação? Neste momento já eram mais de 17h. Parou-se a conversa sobre o livro da Cidinha para fazer-se um lanchinho. Chá, docinhos, salgadinhos e guraná. Uma colega diz que "Domingueira" tinha que ser um dos saídores. Alguém lê, então, este texto. Os anos setenta aterrizam na roda: cabelos (black power, tranças, alisados), vestidos, locais onde os negros(as) dançavam, onde se pode dançar hoje, músicas dos anos setenta, músicas de hoje, bailes só de negros, bailes só de brancos. Histórias sobre os garfos para ajeitar o "black".
Outro texto que não quis ficar fora da saídeira foi "Luana". Texto forte. Real. Belo. Atual.
Conclusão:
O livro da Cidinha é um microcosmo do país. Em alguns textos o mergulho é mais profundo nas demandas sociais.
A Cidinha revela-se uma observadora atenta das diversas realidades do país. Inclusive comentava-se antes de todo o pessoal chegar que a Cidinha mostrava uma face interessante do(a) novo(a) escritor(a) negro(a): não escrever só sobre negros, mas conseguir discorrer, sem titubear, sobre vários assuntos, inclusive sobre negros. E a Cidinha faz tudo isso no mesmo texto: em um texto pode começar falando sobre religião e terminar falando sobre algum filme ou sobre algum fato pitoresco de alguma cidade; pode, em outro texto, começar falando sobre sexualidade e terminar falando sobre algum aspecto da questão negra. E sempre com frases curtas, precisas, e com muito humor. Valeu, Cidinha!
Aceitam-se comentários. Paulo Rodrigues.
pauloluizrodrigues@gmail.com" No próximo pôste comentarei as questões propostas pelo grupo, ao qual agradeço.
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