Três grandes atrizes


Por Cidinha Silva 

Kássia Kiss é a mais velha e experiente do trio. Vivenciou inúmeros papéis durante a carreira: de comerciante à dona de casa, de mulher pantaneira à socialite, de recatada à prostituta. Mulheres ricas, míticas, pobres, de classe média, trabalhadoras, escravizadoras, vilãs, mocinhas, beatas. Personagens amadas e/ou odiadas pelo público, outras que não caíram no gosto da massa, outras eternizadas no imaginário popular, tal qual Maria Marruá.

A versatilidade na atuação é fundamental para formar uma grande atriz, para explorar o repertório individual de cada artista na construção de personagens. Diversificar é a recomendação. Se um ator passa a vida prisioneiro do tipo físico, alternando papéis de criminoso ou de policial, como acontece com muitos atores negros, ele cresce pouco, quando cresce.

Patrícia Pillar é outra atriz-monstro. Não atuou tanto quanto Kássia Kiss, mas sempre deixa marcas profundas quando o faz e agora, começa a ser acionada com freqüência, a tornar-se uma atriz mais popular, porque vista pelo povo e a admiração aumenta.

Talento, aliás, burila-se com trabalho, prática, estudo, erro e acerto. Talento sem exercício não floresce, não vinga como poderia.

A terceira atriz desta crônica é Dira Paes, tal qual Elizeth, divina. Dira, depois de tantas pontas e pequenos papéis agigantados por sua atuação – quem não se lembra dela em A diarista? Eu e milhares de pessoas esperávamos para ver Solileuza, personagem de Dira que roubava todas as cenas do seriado. Enfim começa a transpor, ou começam a deixá-la transpor o cárcere geopolítico imposto à sua beleza e compleição física em cena. Aos poucos ela suplanta os papéis de moradora de favela, trabalhadora doméstica, prostituta, barraqueira, feirante, pessoa desonesta. Sua beleza madura e exuberante, sua sensualidade, também começam a ser exploradas, a exemplo do papel de socialite do sertão casada com um ricaço e amante do jovem garanhão protagonista da trama televisiva.

Foram saborosas as cenas dela, Dira, patroa autoritária, e Kássia Kiss, empregada doméstica, ex-prostituta e presidiária que passa a chantageá-la e extorqui-la escudada pelo ardil de mãe do amante. Duas grandes atrizes em duelo elegante de interpretação, no qual os gestos estudados de cada uma, mais até do que as palavras foram pontes para o brilho de ambas.

Dentre as atrizes negras que me encantam, só Camila Pitanga ultrapassou a contento os limites geopolíticos convencionalmente antepostos à fruição de seu corpo negro. Falta à TV, convidar para trabalhos múltiplos, frequentes e protagônicos, atrizes consolidadas como Zezé Motta, Elisa Lucinda e Ana Carbatti e outras, jovens e potentes, como Dani Ornellas e Érika Januza. Falta.

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