A ausência gritante de candidatos negros à prefeitura das capitais
Por Cidinha da Silva
Uma mirada nas fotografias dos candidatos às prefeituras das capitais brasileiras
no pleito de 2016 permite a identificação de raríssimos negros. Todos homens, à
exceção de Célia Sacramento (PPL), em Salvador.
A capital da Bahia, aliás, fazendo jus à sua imensa população negra, teve três
candidatos negros: Fábio Nogueira (PSOL), Pastor Sargento Isidório (PDT) e a
própria Célia Sacramento, ex-vice-prefeita. Viu-se também o oportunismo de ACM
Neto, reeleito, que em dado momento da campanha definiu-se como “afro-descendente”.
Em Recife, um candidato negro chegou ao segundo turno, João Paulo (PT). E paramos por aqui. Nenhum registro no Rio de Janeiro, São Paulo ou Belo Horizonte, capitais de milhares de eleitores negros.
Se sairmos das capitais para as grandes cidades, o quadro sofre poucas alterações.
Ainda em Pernambuco, na cidade de Olinda, a deputada federal Luciana Santos (PCdoB) e ex-prefeita em duas legislaturas chegou apenas ao 4º lugar. O deputado estadual Prof. Lupércio (SD), por sua vez, disputa o 2º turno da eleição.
Em Cariacica (ES), Juninho (PPS) chegou ao 2º turno. Em Contagem, uma das quatro cidades de maior arrecadação de ICM em Minas, Monique Pacheco se candidatou pelo PSOL e alcançou cerca de seis mil votos.
No Maranhão, estado reconhecidamente negro, o PCdoB do governador Flávio Dino é o
campeão de prefeitos eleitos no primeiro turno, são 46 cidades. Resta perguntar
quantos desses prefeitos eleitos são negros e, mais ainda, se haverá alguma mulher negra entre eles.
O Executivo é instância de concentração substantiva de poder e quanto mais poder há nos espaços, mais os grupos discriminados estão distantes deles. Associe-se a isso o mecanismo racista de não fomentar e também impedir que as pessoas negras ultrapassem os limites internos, neste caso, dos partidos políticos, para chegar as esses lugares de poder.
A eleição de Julio Cezar (PSB) em Palmeira dos Índios, 4ª maior cidade de Alagoas, pode oferecer pistas sobre a trajetória dos negros que, eventualmente chegam à prefeitura.
Júlio Cezar é vereador desde 2012 e jornalista com forte atuação nos meios de comunicação da cidade. Considerando que Julio derrotou a poderosa articulação de Renan Calheiros, senador, e Renan Filho, governador, ambos do PMDB e Teotônio Vilela Filho (PSDB) em torno da adversária derrotada, com 67% dos votos válidos, a imprensa local gritou eufórica que “o filho da verdureira quebrou as correntes de oligarquias que comandavam o município alagoano de Palmeira dos Índios e se tornou prefeito”.
Fica a dúvida: se Júlio fosse um homem branco, também haveria referência a “correntes”? E o lugar de “filho de uma verdureira” teria tanta força? Lugar de quem supera grandes dificuldades e consegue pelo “mérito próprio” chegar a um lugar melhor. A ênfase à vitória pessoal de um negro deixa de lado questões estruturais, o racismo estrutural, ele mesmo,
produtor e mantenedor de correntes para os negros.
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