Áurea Carolina, vereadora de BH: a cara e a voz da renovação
A cara (e a voz) da renovação
Recordista de votos em BH, Áurea Carolina faz o PSOL “estrear” na Câmara
PUBLICADO EM 04/10/16 - 03h00
Para conceder esta entrevista, nada de escritórios ou gabinetes fechados: Áurea Carolina escolheu uma praça. A opção diz muito sobre como será a conduta da próxima vereadora, eleita com 17.420 votos, o maior apoio recebido na Câmara de Belo Horizonte: “Foi-se o tempo em que a política era essa coisa distanciada, encastelada. As pessoas querem participar”.
Com uma trajetória de lutas na cidade, Áurea recebeu a reportagem com sandálias nos pés e um sorriso largo no rosto. Antes mesmo que começasse a contar sua história, o abraço demorado que dava a cada um que a reconhecia ali já revelava a sensação de identificação e o sentimento de esperança que tomaram conta de quem escolheu depositar nela seu desejo por mudanças.
“A gente está vivendo uma virada política, um momento de entressafra. Acabamos de passar por um golpe institucional. Há um desmantelamento de certas forças sociais, mas tem uma emergência desse novo campo, essa esperança. Ontem (3), as pessoas me abraçavam dizendo: ‘você me representa’”, conta Áurea, esbanjando entusiasmo frente ao novo desafio que terá a partir de janeiro. “Em contraponto a essa política competitiva, de anulação do que há de mais bonito na cidade, a política pode ser a gente junto, governando. E este é nosso sonho: contagiar muita gente, fazer isso transbordar ainda mais”.
Nascida no Pará, mas de família mineira, Áurea Carolina, 32 anos, cresceu no bairro João Pinheiro, na região Noroeste da capital, onde vive até hoje, ao lado do marido, Saulo Veríssimo, 36, e das duas gatas, Margô e Baobá. Formada em ciências sociais, com mestrado em ciências políticas pela UFMG e especialização em gênero e igualdade na Universidade Autônoma de Barcelona, a vereadora eleita quer levar para a Câmara as lutas dos movimentos sociais de Belo Horizonte.
“Eu sou uma lutadora de muitas causas na cidade”, resume Áurea, que foi uma das fundadoras do Fórum das Juventudes da Grande BH e da movimentação Muitas pela Cidade que Queremos, responsável por apresentar as 12 candidaturas do PSOL ao Legislativo da capital.
Áurea revela que foi a partir de um grupo de rap do qual participou como cantora, no início dos anos 2000, que se jogou para valer nas lutas de rua: “O hip hop foi meu portal para acessar vários movimentos, o feminista, negro, de juventudes”.
A futura vereadora também tem no currículo uma passagem de cinco meses pelo governo estadual, quando atuou como subsecretária de políticas para as mulheres. Em agosto do ano passado, porém, pediu exoneração do cargo por não concordar “com os rumos” que o governo estava adotando e por não ter encontrado “respaldo” para seu trabalho. No fundo, Áurea já sabia que sua luta era mesmo das ruas.
“Eu me formei assim, na rua, ocupando. O hip hop é muito isso, é chegar chegando. O duelo de MCs é um exemplo emblemático de chegar, ocupar, resistir contra a repressão e fazer uma cena bonita. As praças são um lugar de convivência e precisam estar acessíveis a todos”, defende.
Para o marido, se depender de determinação e foco, Áurea tem tudo para fazer história na Câmara: “Ela acredita e faz acontecer. É um voto, mas a voz de muita gente”, frisa.
Com uma trajetória de lutas na cidade, Áurea recebeu a reportagem com sandálias nos pés e um sorriso largo no rosto. Antes mesmo que começasse a contar sua história, o abraço demorado que dava a cada um que a reconhecia ali já revelava a sensação de identificação e o sentimento de esperança que tomaram conta de quem escolheu depositar nela seu desejo por mudanças.
“A gente está vivendo uma virada política, um momento de entressafra. Acabamos de passar por um golpe institucional. Há um desmantelamento de certas forças sociais, mas tem uma emergência desse novo campo, essa esperança. Ontem (3), as pessoas me abraçavam dizendo: ‘você me representa’”, conta Áurea, esbanjando entusiasmo frente ao novo desafio que terá a partir de janeiro. “Em contraponto a essa política competitiva, de anulação do que há de mais bonito na cidade, a política pode ser a gente junto, governando. E este é nosso sonho: contagiar muita gente, fazer isso transbordar ainda mais”.
Nascida no Pará, mas de família mineira, Áurea Carolina, 32 anos, cresceu no bairro João Pinheiro, na região Noroeste da capital, onde vive até hoje, ao lado do marido, Saulo Veríssimo, 36, e das duas gatas, Margô e Baobá. Formada em ciências sociais, com mestrado em ciências políticas pela UFMG e especialização em gênero e igualdade na Universidade Autônoma de Barcelona, a vereadora eleita quer levar para a Câmara as lutas dos movimentos sociais de Belo Horizonte.
“Eu sou uma lutadora de muitas causas na cidade”, resume Áurea, que foi uma das fundadoras do Fórum das Juventudes da Grande BH e da movimentação Muitas pela Cidade que Queremos, responsável por apresentar as 12 candidaturas do PSOL ao Legislativo da capital.
Áurea revela que foi a partir de um grupo de rap do qual participou como cantora, no início dos anos 2000, que se jogou para valer nas lutas de rua: “O hip hop foi meu portal para acessar vários movimentos, o feminista, negro, de juventudes”.
A futura vereadora também tem no currículo uma passagem de cinco meses pelo governo estadual, quando atuou como subsecretária de políticas para as mulheres. Em agosto do ano passado, porém, pediu exoneração do cargo por não concordar “com os rumos” que o governo estava adotando e por não ter encontrado “respaldo” para seu trabalho. No fundo, Áurea já sabia que sua luta era mesmo das ruas.
“Eu me formei assim, na rua, ocupando. O hip hop é muito isso, é chegar chegando. O duelo de MCs é um exemplo emblemático de chegar, ocupar, resistir contra a repressão e fazer uma cena bonita. As praças são um lugar de convivência e precisam estar acessíveis a todos”, defende.
Para o marido, se depender de determinação e foco, Áurea tem tudo para fazer história na Câmara: “Ela acredita e faz acontecer. É um voto, mas a voz de muita gente”, frisa.
Sucesso coletivo. Áurea atribui a votação expressiva à força das esquerdas em BH, à proposta de que é possível outra política e à identificação com sua trajetória: “É uma responsabilidade, mas não vou sozinha”.
DISPOSIÇÃO
“Estamos lá para conquistar para todos”
Mulher, negra, feminista e da periferia, Áurea Carolina sabe que não será fácil enfrentar a resistência de setores mais conservadores da Câmara. Mas nem por isso desanima: “Tem que ter jogo de cintura, a política é isso também”.
Para o seu mandato, a vereadora eleita aposta no diálogo. “Dá para construir pontes. Não precisamos o tempo inteiro estar em oposição, enfrentando. O que é princípio não pode ser negociado jamais, mas o que for possível de dialogar a gente vai fazer esse exercício. Estamos lá para conquistar para todo mundo”, diz.
Ainda assim, o marido, Saulo Veríssimo, acredita que Áurea vai chegar “pisando no calo”, o que pode incomodar muita gente. De fato, um dos primeiros projetos de lei que a nova vereadora pretende apresentar será o de reduzir o salário dos vereadores, secretários municipais e prefeito. O tamanho da redução ainda será estudado, mas promete gerar desconforto entre os parlamentares, muitos dos quais aprovaram aumento da própria remuneração em 2011.
Para além disso, Áurea também vai abrir mão de parte do próprio salário, que será colocado à disposição de movimentos sociais. “Nós firmamos em cartório um compromisso por mandatos contrários aos privilégios”, explica.
Para o seu mandato, a vereadora eleita aposta no diálogo. “Dá para construir pontes. Não precisamos o tempo inteiro estar em oposição, enfrentando. O que é princípio não pode ser negociado jamais, mas o que for possível de dialogar a gente vai fazer esse exercício. Estamos lá para conquistar para todo mundo”, diz.
Ainda assim, o marido, Saulo Veríssimo, acredita que Áurea vai chegar “pisando no calo”, o que pode incomodar muita gente. De fato, um dos primeiros projetos de lei que a nova vereadora pretende apresentar será o de reduzir o salário dos vereadores, secretários municipais e prefeito. O tamanho da redução ainda será estudado, mas promete gerar desconforto entre os parlamentares, muitos dos quais aprovaram aumento da própria remuneração em 2011.
Para além disso, Áurea também vai abrir mão de parte do próprio salário, que será colocado à disposição de movimentos sociais. “Nós firmamos em cartório um compromisso por mandatos contrários aos privilégios”, explica.
Marcas históricas na disputa
17.420 foi o total de votos recebidos por Áurea, a candidata mais votada de BH
1.410 candidatos disputaram uma das 41 vagas da Câmara Municipal de Belo Horizonte
2 cadeiras foram conquistadas pela primeira vez pelo PSOL na capital mineira
2 cadeiras foram conquistadas pela primeira vez pelo PSOL na capital mineira
GESTÃO COMPARTILHADA
O diálogo como pilar em prol de um “mandato aberto”
Um dos pilares do mandato de Áurea Carolina será o diálogo. A intenção é que as decisões sejam tomadas publicamente e com consulta à população. “Não estamos lá para defender por defender as coisas. Tem que ter um sentido”, afirma.
Além do que chama de “mandato aberto”, Áurea quer promover assembleias em praças públicas e criar mecanismos de consulta às pessoas pela internet. Questionada se será possível viabilizar a ideia no dia a dia, afirma que sim. “Óbvio que vou precisar conciliar tarefas que são complexas, mas estou à disposição. Estou investindo a minha vida mesmo, e não só a minha, a vida de muita gente. É um sonho coletivo”, explica. “Política também é o desejo de estar junto, e se a gente ativa esse desejo, as pessoas chegam”.
Até janeiro, antes de o mandato começar, a futura vereadora já terá bastante trabalho. “Vamos entrar na fase de planejamento coletivo, principalmente com relação aos critérios do mandato, composição de equipe, como aplicar os recursos”, detalha. Daí para frente, é arregaçar as mangas e continuar a lutar.
Segundo Áurea, o empoderamento das mulheres, a promoção da igualdade racial e os direitos das juventudes serão lutas prioritárias, ao lado de questões como a ocupação dos espaços públicos, segurança cidadã e gestão compartilhada de serviços com comunidades.
A futura vereadora ressalta que vai defender as bandeiras de todas as 12 candidaturas do movimento Muitas pela Cidade que Queremos. “É importante a representatividade dos nossos corpos, e a gente teve uma diversidade maravilhosa nessa ‘chapinha’. A construção das pautas foi compartilhada. Sabemos que temos feito muita coisa na cidade, mas ainda não havia representatividade e poder decisório”. Após a vitória do domingo, as lutas certamente terão outra visibilidade.
Além do que chama de “mandato aberto”, Áurea quer promover assembleias em praças públicas e criar mecanismos de consulta às pessoas pela internet. Questionada se será possível viabilizar a ideia no dia a dia, afirma que sim. “Óbvio que vou precisar conciliar tarefas que são complexas, mas estou à disposição. Estou investindo a minha vida mesmo, e não só a minha, a vida de muita gente. É um sonho coletivo”, explica. “Política também é o desejo de estar junto, e se a gente ativa esse desejo, as pessoas chegam”.
Até janeiro, antes de o mandato começar, a futura vereadora já terá bastante trabalho. “Vamos entrar na fase de planejamento coletivo, principalmente com relação aos critérios do mandato, composição de equipe, como aplicar os recursos”, detalha. Daí para frente, é arregaçar as mangas e continuar a lutar.
Segundo Áurea, o empoderamento das mulheres, a promoção da igualdade racial e os direitos das juventudes serão lutas prioritárias, ao lado de questões como a ocupação dos espaços públicos, segurança cidadã e gestão compartilhada de serviços com comunidades.
A futura vereadora ressalta que vai defender as bandeiras de todas as 12 candidaturas do movimento Muitas pela Cidade que Queremos. “É importante a representatividade dos nossos corpos, e a gente teve uma diversidade maravilhosa nessa ‘chapinha’. A construção das pautas foi compartilhada. Sabemos que temos feito muita coisa na cidade, mas ainda não havia representatividade e poder decisório”. Após a vitória do domingo, as lutas certamente terão outra visibilidade.
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