Salve a Soberana da Angola Janga das Águas!


Por Cidinha da Silva
Eu me lembro com saudade o tempo que passou. O tempo passa tão depressa, mas, em mim deixou jovens tardes de domingo, tantas alegrias. Velhos tempos! Belos dias! Eu que era toda Paulinho, que julgava não sentir saudade do passado, porque o vivido sou eu, está em mim, pedi à Thalita que me acalentasse com Roberto, depois que Ellen abandonou meus domingos.
Quando ela aparecia na TV e em meio às canções desferia aquele sorriso largo, eu perguntava a Pessoa: ó mar salgado, quanto de teu sal são lágrimas de africanos? Ellen se adiantava e me respondia: todo o sal sangrado na kalunga grande, mas não se esqueça, Clementina cantou tão bonito as desventuras de nosso povo aflito! E de lá, da kalunga e de Clementina, vem essa força, essa energia, que incendeiam meu corpo de alegria.
E eu me apaziguava nessa nossa capacidade infinda, atlântica, de reinventar a dor, a falta, a agonia, e edificar a vida, o mundo novo. E Iemanjá, sentada à cabeceira da mesa, entregava a Posseidon o comando do mundo das águas, enquanto ia à terra cuidar das chagas do menino Obaluaê.
E foi com a generosidade de Iemanjá que Ellen curou nossas chagas a cada nota, a cada gesto, a cada palavra, casca da ferida de existir, naquelas tardes de domingo, fizesse sol ou chuva.
Agora, depois de tanta graça espraiada em encontros televisivos, dádiva que reunia nosso povo, tal qual jogo de Copa do Mundo, volto à condição de fã mediada por outras mídias. Aguardo os shows para degustar a cantora em voz, a compositora em sangue e águas. Delírio! Delírio!
Espalmo as mãos, agradecida, e faço uma reverência por tudo de bom e belo que Ellen fertilizou em nós, desbordou em águas, afrouxou nós. Salve Xangô, meu Rei, Senhor! Salve Oxum, Iemanjá e as águas! Salve Obaluaê, deus do cuidado que cura. Salve Kitembo, senhor do segredo. Salve Ellen Oléria, mulher atlântica que transbordou Áfricas de nossos corações!

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