Sobre Um Exu em Nova York


Depenando Um Exú em Nova York de Cidinha Da Silva ou como elaborar um Galo
Por Pedro Neto
Cansado de escritoras(es), algum inclusive famosos na minha bolha. Aqueles que usam do cosmos das tradições de matriz africana. Pegam - cantiga, poema, história, verso do ancestrais divinizados yorùbá (negros sim!), entre eles os Orixás. Fazem uma tradução rasa e superficial e assinam o escrito como se nós não soubéssemos.
Depenei Um Exú em Nova York de Cidinha da Silva da mesma maneira que ritualizo minhas origens. Igual guando oferto e compartilho um galo para Exú.
Comprei o livro, achei-o lindo e saudável pela aparência. Capa linda, tanto pela arte gráfica quanto pelo papel e acabamento usado. Guando vou comprar o Galo ele deve estar vistoso, com suas penas, asas, bico e pernas impecáveis. É mentira aqueles que dizem que negras(os) e seus descendentes não tem “bom gosto” ou são “são avessos” ao belo. Nossa estética é outra, nossa ética existe e é linda.
Arrumei um bom momento e lugar agradável para ler o livro. Esperei dias para encontrar este canto. Do mesmo modo, que cuido do Galo e preparo todos os apetrechos necessários para imolá-lo. Não é só pegar a faca, o cosmo yorùbá na ritualização de suas origens deve conter todos os signos e símbolos. Da folha ao fogo acesso.
Li o livro, como depeno o Galo. Folha por folha. Pena por pena. Volto, coloco o Galo na água quente para tirar com mais facilidade a capa colagenosa das pernas. Volto páginas para ver melhor as palavras e fases elaboradas por Cidinha. Método necessário para destrinchar parte a parte do Galo.
Cozinho o Galo. Na panela ingredientes para deixa-lo mais saboroso ainda. Para Exú e para todos nós que iremos comê-lo. As palavras saborosas do livro da Cidinha são prefaciadas por uma multiplicidade de temperos gostosos do nobre filho do nosso civilizador. Tata Nkosi Namba Uã Flor Do Nascimento Wanderson Flor do Nascimento que delícia!
Cada título do livro parece um oriki, nada obvio mas contém elementos inteligentes que anunciam as histórias.
Nesse momento me transformo no meu ancestral, assim como, viro cada personagem construído por Cidinha. Ela consegue fazer isso conosco, possibilitar ser Exu, minimamente conversar com ele ou falar das suas centenas de facetas.
Em agradecimento, o Exu da Oxum pousa para foto.

Comentários

Postagens mais visitadas