A vida por um telefonema
Sensação reconfortante aquela de retornar à pré-história de Alexander Graham Bell, quando o telefone servia para falar e ouvir. O contratante tocou fundo o coração da escritora quando depois de cordiais saudações, disse: Tenho uma proposta a você para retomada de transmissões de teatro na instituição em que trabalho. Se pudermos falar por telefone, posso te explicar. Não tenho seu número”.
Coisa quase inacreditável, alguém que ainda usava o telefone para conversar. Ele não pediu número de Whats, não sugeriu que trocassem áudios, não, eles poderiam conversar por aquele aparelhinho que um dia tivera aquela função comunicacional simultânea. O contratante solicitou um número para telefonar, não fizera um inquérito de horários para saber quando ligar para pedir ou dar uma simples informação.
Estava certo que era um senhor de mais idade, na casa dos setenta, acostumado à etiqueta do telefone como instrumento de comunicação direta, mas a escritora também encontrava em seu caminho gente dessa mesma geração que propunha o seguinte: “Podemos agendar uma conversa no Google Meet no dia tal? Assim combinamos tudo certinho para a gravação do vídeo. Se puder, por favor, indique o melhor horário”.
A escritora, antipática como alguns dizem, foi obrigada a responder: ”Sobre essa conversa via sala de vídeo, eu prefiro falar por telefone, pode ser? Não vejo necessidade de usar a tela do computador para isso, evito o máximo que posso, pois nessa pandemia passo horas sem fim em reuniões, aulas, lives, etc, e acho que o telefone ainda cumpre seu papel. Posso aguardar seu telefonema no final da manhã do dia tal”?
Talvez a voz de Graham Bell tenha sido ouvida e tenha levado a senhora em questão a responder que sim, poderiam falar por telefone. Ela concordava que ele ainda servia às tratativas de trabalho.
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