Abundância
No dia de Obará ganhei um punhado de pequis, importado por afilhados, direto do cerrado mineiro. Não poderia haver símbolo maior de riqueza entregue nesse dia de cultuar a fartura, um buquê amarelo encantando a vida.
Pequi é fruta da infância, estranhamente vendida em litros pelos camelôs das ruas Guarani, Olegário Maciel e arredores do mercado central, em Belo Horizonte. Desde criança achava aquilo curioso, mas parece que a lógica é que os vendedores usavam uma lata de óleo de soja vazia para medir a quantidade de pequi.
Na família só eu e meu pai gostamos, é ótimo, pois sobra mais pra gente. Pequi lá em casa se comia sozinho ou com arroz, mais tarde, em Goiânia, descobri pratos deliciosos com frango e os veganos de jaca com pequi. Pequi merece debutar no café da manhã se tiver sobrado do jantar.
Não vou mentir, acho ridículo o pessoal glutão que se machuca comendo pequi. O que se come da fruta é uma polpa fininha que você deve morder com cuidado, senão atinge uma camada de espinhos minúsculos que grudam na língua e lábios. Tem gente que raspa com faca, aprendemos desde pequenos a usar os dentes inferiores e sempre deu certo. As mordidas mais vorazes costumam levar os desavisados para o pronto-socorro.
Quem sabe falar belezuras e profundezas sobre o cerrado é tatiana nascimento, mas me arrisco a dizer que gosto dessa carne pouca e saborosa que esconde um grande perigo, mas se a pessoa souber lidar com a fruta, passa pelo risco sem notar que ele existe.
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