Afro-lembranças dos Jogos Panamericanos

Na abertura, Virna e Robson Caetano. A primeira, contra as cubanas, às vésperas de encerrar a carreira, disse que o time brasileiro de volei feminino iria pegar "aquelas nega". Yo soy cubana desde criancinha, soy una de las nega. O segundo se vira nos trinta. Multifacetado. É apresentador, comentarista, canta e dança no Domingão do Faustão. É admirável. A duras penas consegue se manter em evidência. Diogo Silva, o belo que não figura em nenhuma lista de belos. Só na minha, lida apenas aqui no blogue. Menino de ouro. Mãe de diamante. Mas vocês viram quantos sósias arrumaram para ele? Sósia careca, de cabelo curto, de trança, cara de lua, e ele, todo longilíneo. Nenhum sósia rasta, de dreadlocks. Engraçado. Sósia, no meu entendimento, precisa ser parecido na singularidade. No caso do Diogo, singular é o cabelo. Ao acharem tantos sósias para ele estão dizendo que o campeão tem características muito comuns, facilmente encontráveis. Quantos homens rastas, brasileiros, você conhece no esporte nacional? Atletas de ponta, de alto nível e visibilidade? Eu conheço o Diogo e o Roque Júnior, que passou a cultivar dreads depois de ter descoberto sua magia na Europa. Muitos homens negros de dreads eu só vejo na Bahia, em Salvador, na limpeza das ruas, nos caminhões de carregar cerveja, para além do ambiente dos blocos Afro. Revolucionário, depois disso, só as tranças coloridas do Wagner Love e as madeixas do Ronaldinho Gaúcho e seus seguidores na sub-20, sub-17 e nas outras sub. Pois é, Zé. E a lista das mais belas? Na minha não pode faltar Kátia Cilene, atleta do futebol feminino. Tá aí na foto. E Marta Sobral, do basquete. Aposentou-se há tempos, mas Marta é eterna. Sua beleza e elegância estão para as quadras, como Naomi está para as passarelas. Marta, for ever. E os meninos do boxe? Pedro Lima e o outro. Seguindo o escript da entrevista global carregaram nas tintas da pobreza, dos sofrimentos na infância, da ajuda à mãe, etc. Aí a repórter achou que eles estavam exagerando e os interrompeu. "Tá bom, tá bom. Vocês sofreram, mas o importante é que conseguiram. Estão classificados para disputar a final." Ednanci Silva. Gloriosa. Ainda bem que não desapareceu como Edwaldo Valério. Edwaldo Bala. Alguém viu nosso menino da natação? As meninas do futebol feminino. Divinas. Tinha até placa no Maracanã: "não vi Pelé, tô vendo a Marta". "Dunga, é Marta e mais dez". Só foi dispensável aquela reboladinha, ridícula, assim que subiram ao pódio. E ainda tantas afro-medalhas de prata. Outras de bronze. Quero aproveitar o mote e propor mudança nas manchetes. Chega de "Claudinei Quirino, mais um vitorioso contra a pobreza". Eu quero Quirinos, Silvas e Santos apresentados assim: "Cláudio Berkerck, velejador por diversão". Quero os meus velejando, não quero criança esperança. Sem essa de esporte como "inclusão social". Quero os meus patinando, jogando tênis, de quadra e de mesa, nadando, montando cavalos, se inspirando em Daiane dos Santos, porque é gostoso, divertido, desafiador. Quero o esporte para fluir, não porque não tem saída pra preto. Ou por ser a "saída" da pobreza. E continuar sendo tratado como preto, sempre. Jadel Gregório, um rei Iorubá, face a crise dos aeroportos, ao chegar em Saõ Paulo, vindo de uma competição na Europa, ouviu pergunta cretina sobre ida de ônibus para o Rio de Janeiro, para a disputa do PAN que nos trouxe o ouro. Ele riu irônico e respondeu "vou tentar ir de avião". Era como se dissesse, "se eu não conseguir, espero que o poder público ou o COB providencie um helicóptero para me levar". É que o repórter acha que preto agüenta tudo e mesmo sendo atleta de alto nível, ele continua preto, fortão, e poderia passar seis horas num ônibus, antes de uma competição internacional. Até valorizaria a medalha. A ministra alçou Eliete Cardoso dos Reis (24 anos), campeã da patinação, ao posto de mãe da ginasta Daiane (22 anos). Por quê, perguntou a moça, irritada. "Porque vocês duas são moreninhas." Durma-se com um barulhos desses. Por essas e outras, eu canto: "Euuu sou afro-brasileirooooo, com muito orgulhooo, com muito amooorrr. Eu sou afro-brasileiroooo"...

Comentários

Anônimo disse…
eh, querida, como é bom passar por aqui... quando vier pra essa terra outra vez, avisa. a gente precisa tricotá.

beijo grande
Anônimo disse…
A cada "esquete" do pan que entrava na TV eu me doloria. Precisava deste texto da Cidinha pra me sentir representada... Também quero os nossos e as nossas velejando, nadando, praticando hóquei, squash, paraglider, esportes "pan" e "extra-pan"...

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