Mais um dia dos pais e um homem negro sem camisa

A propaganda é alusiva ao dia dos pais e vários homens brancos, um oriental e um negro aparecem com seus respectivos rebentos trocando carinho. Todos os homens trajam camisa. Diferentes tipos de camisa, de manga comprida, esportivas, coloridas, sóbrias. Diferentes também são os homens brancos. De cabelos pretos, de cabelos amarelos, lisos, encaracolados, de barba, sem barba, com a barba por fazer. Modernos. Despojados. Clássicos. Uns sérios, outros risonhos. O oriental é um só e também veste uma camisa. Ele é único, mas eles são 1% da população brasileira. Só o homem negro, também único representante de seu grupo racial, está sem camisa. Como os demais homens da propaganda, ele é bem bonito e ainda tem o detalhe dos músculos em destaque, do óleo que deixa a pele dele brilhando. As roupas das crianças são compatíveis com a roupa dos pais. Exceto o figurino da criança negra. O pai de peito desnudo sugere uma situação de praia, clube, calor, despojamento. Mas deve ter havido erro na escolha da roupa porque a menina negra não está vestida como uma criança que vai brincar em um clube, um parque ou praia. Ela parece um bibelô, uma bonequinha antiga, vestida com extremo mau gosto e desconforto. Traja um vestido de duas saias, cheio de babados e rendas. Como é que a bichinha vai correr presa em um trambolho daqueles? O produto é anunciado e cada pai eleva o rebento aos céus. Pois pai que se preza deve dar essa demonstração de força e controle motor. O pai negro é o mais escondido (deve ser porque seus músculos são muito salientes) e a garota negra passa como uma nuvem de chuva rala. Termina a propaganda e as interrogações permanecem. Por que a menina negra é a única vestida com uma roupa tão cafona e anacrônica? Por que se representa apenas a diversidade dos homens brancos? Por que, justamente o modelo negro, foi escolhido para figurar sem camisa?

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