Disco arranhado

No pôste anterior, “Sinal dos tempos”, faltou dizer porque seria incompatível ser atleticana e em dado momento torcer pelo Flamengo. Escapou aí uma atitude típica de torcedora de futebol, qual seja, a gente acha que todo mundo domina a história do nosso time do coração. E mais, caso o leitor não tenha conhecimento pelo menos dos fatos marcantes da história do clube amado, o problema é dele. Mas, como torcedora light há muito convertida, e agora escritora, explico: a última (e talvez única) vez que o centenário Clube Atlético Mineiro ganhou um campeonato nacional foi em 1971, sob a batuta de Telê Santana. De lá para cá, não ganhamos mais nada. Ou seja, o torcedor ou torcedora de menos de 38 anos não viu o Atlético ganhar qualquer certame significativo, sequer ouviu o foguetório de 1971. No fim da década de 70, o Atlético tinha um timaço, disputava títulos nacionais, ameaça chegar: em 77 perdemos para o São Paulo, naquele jogo detonador da violência em campo, quando o Chicão, um perna- de-pau, quebrou a perna do Ângelo, defensor do Atlético. Em 78 perdemos para o Flamengo, em 79 para alguém que não me lembro quem, deve ter sido para o Flamengo ou para o Inter, o importante é que perdemos. Em 1980, de novo, fomos vencidos pelo Flamengo, naquele que, segundo o youtub, ficou conhecido como “o maior roubo da história do futebol brasileiro”. O Juiz da partida foi imortalizado, desde então, como “José Roberto Rato”. É isso, lembranças tristes. Deve passar por aí minha identificação e solidariedade com o Cuca, sabemos como dói ser vice por vezes seguidas. O Flamengo tripudiou sobre o Atlético e os flamenguistas sobre os atleticanos. Imperdoável! Lembro-me que durante a minha infância toda, o único problema de caráter da minha tia mais querida, era ser atleticana e torcer para o Flamengo, quando se tratava de times cariocas. Até meu pai, o atleticano-mor da minha vida, um dia chegou em casa com uma camisa do Flamengo, ainda que fosse o uniforme B, branco e vermelho, não aquele vermelho e preto acintoso, era Flamengo e quase me matou de desgosto. Quando vi meu pai vestindo aquilo foram noites insones pensando em como abordá-lo, sem desperta-lhe a ira, para cobrar uma satisfação. Tomada de coragem, chamei-o num canto em dia de bom humor e inquiri: “pai, que negócio é esse do senhor usar uma camisa do Flamengo?” Peguei na curva, o traidor. Ele tossiu, disfarçou e saiu com essa: “eu não comprei, ganhei, e cavalo dado a gente não olha os dentes.” Para meu desespero, encerrou a conversa continuou a vestir o presente.

Comentários

Luana Tolentino disse…
Nossa Cidinha!!!! Além de excelente escritora és ATLETICANA!!!! Como tenho sofrido!!! Porém nunca vou deixar de torcer fervorosamente, devotamente pelo meu Galinho. Nunca vou deixar de ir ao estádio e ouvir os jogos na Itatiaia. Confesso: depois do Galo o Flamengo é o time que mais gosto.Sabe por quê? Porque assim como o Galo é um time de massa, um time das multidões, dos negros, dos trabalhadores, dos operários!!! Achei a última camisa feminina do Flamengo linda!!! Estou criando coragem pra comprar. Uma coisa é torcer "escondidinho" pelo Flamengo, outra é sair exibindo as cores rubro-negras. Saudações Atleticanas!!! Luana

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