Obegê, Recife!
Por Cidinha da Silva
Vem pessoal, vem moçada! Carnaval começa com o Galo da
Madrugada. Que sai agora no final da manhã cansou-se de madrugar. A cidade se enfeita e um galo enorme é
colocado na Ponte Duarte Coelho. O Galo já saiu? Vamos gente, que o Galo vai
sair. É o que se ouve nas brincadeiras. O
Galo só volta para o ano e ainda tem sulista e sudestino estacado na ponte, aos
pés do Galo, esperando que ele saia.
Começa com o Galo, mas os Maracatus de Baque Virado fazem a
abertura oficial regidos por Naná. Os tambores apresentam o que não ouviremos
em Olinda. Lá predominarão os grupos percussivos autodenominados maracatus. Nos
verdadeiros, embora estrelados por rainhas, reis, tambores falantes, Calungas,
é a figura misteriosa e imperativa do Caboclo de Lança, quem mais fascina. Todo
aquele colorido agigantado, os sinos às costas, de barulho agudo e ritmado,
evocando na gente segredos que caboclo algum nos contará.
O Maracatu Rural é ainda mais intrigante e entre versos bobos
de elegia ao prefeito ou ao secretário de cultura que paga o transporte dos
festeiros até a festa e oferta água e lanche chinfrim, escapam versos cortantes
e irônicos, como os que definem o Big Brother como o cabaré global.
Os mistérios prosseguem na Noite dos Tambores Silenciosos, no
Largo do Terço das tias imortalizadas, guardiãs da tradição do culto aos
ancestrais. Por falar em religiosidade de matriz africana, reverencia-se por
demais os yorubá nos discursos militantes, nas abordagens acadêmicas, entretanto,
respiramos ares e cores banto por todos os cantos, encantos e esquinas de
Recife.
Lenine dá o ar da graça na noite iluminada e é tão simples,
tão acessível, tão humano que o fã nem repara na mão estendida para
cumprimentá-lo, nos olhos que miram seus olhos. O fã nada quer trocar com o
artista, deseja apenas uma foto que os registre no universo das celebridades.
O Batucafro de Naná lembra o Rumpilezz, em menor escala, embora
diferencie-se também pelo canto e pelo grande número de mulheres como
musicistas, além do regente, nada menos do que Naná Vasconcelos. Há mesmo um
universo sonoro imenso a explorar no diálogo entre tambores e sopros.
Marthinho canta e dança como um menino. Chico César leva a
massa ao delírio. Rita Benneditto encanta. Gil é cadenciado e terno. Alceu põe fogo no mundo, e Elba, ah, Elba é o
sol a pino do sertão paraibano chamando a chuva, é força da natureza. Reginaldo Rossi é espírito imortalizado na voz
saudosa e sorridente do povo.
O frevo lírico, já na ressaca do sábado é a coisa mais linda
de se ver. É ele que me fará cantar em carnavais vindouros: voltei Recife, foi
a saudade que me trouxe pelo braço...
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