Quando a palavra seca
Por Cidinha da Silva
Tudo perde o sentido quando uma mulher negra, moradora de favela, baleada no pescoço, pende de um porta-malas e tem o corpo arrastado pelas ruas do centro do Rio.
Transeuntes e
motoristas buzinam, gritam, acenam, se desesperam, choram, lamentam, porém, os
policiais que dirigem o carro não ouvem, não vêem, não param. Não param. Não
param.
As
palavras humanidade, respeito, dignidade, cidadania, vida, direitos, sonhos,
justiça, perdem o sentido. A gente perde as forças, a palavra, e míngua, como o
texto seca diante de mais um caso de horror racista que não comoverá o mundo e
ainda terá a dimensão racial esvaziada.
Perde-se
o sono e não se sabe a fórmula do conforto para reencontrá-lo. Tudo perde o sentido.
A vida perde a poesia. A condição humana é rebaixada a cada ação policial.
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