Sobre Negrices em Flor, novo livro de Maria Tereza
O Negrices de Tereza, Edições Toró, 2007, é poesia quente, visceral, sem preocupações excessivas com o apuro da forma. É de sabedoria simples, no sentido de ser básica, sem o verniz da sofisticação: “neste corpo cheio de poros sei muito bem do meu osso” (Rosa preta); “Melhor só do que meio mal acompanhada”; “Quando dois querem um não vai embora”; “Difícil é ser e ir, mas ninguém falou que ia ser facinho”; “Tem amor que dá no peito, tem amor que dá no pé”. Quatro versos de um poema sem título na página 40. É outra autora, bem diferente daquela mulher sôfrega do “Ruídos”, de 2004, editora ComArte. A Tereza do Negrices é afro-zen. É Tereza também de traços leves, de desenhos feitos por ela mesma. É forte e bonita, como em “Rigidez”. A rigidez dos dias faz ainda coro no lombo / De crianças que trabalham como bichos / De meninas emputecidas sem leitura / De moleques pau pra toda obra em qualquer esquina / Esses, estas todas mesmo que ainda imaginam / Como seria pronunciar bem e entendendo / Palavras escritas / Até poesia. Sagaz e refinada como em “Eugenia”. A boneca preta de Clarice não se podia tocar, era proibido com ela brincar porque parecia realmente com um bebê negro, de pele macia luzente e cabelo cheio de texturas. Eugenia fora um presente que a mãe de Clarice detestara. E ainda por puro deleite erudito batizara-a assim em letras minúsculas, sem acento, eugenia.
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