A Somáli Ayaan Hirsi Ali lança livro em São Paulo, dia 20/10

(texto de divulgação - sítio da livraria cultura) "Em novembro de 2004, o cineasta Theo van Gogh foi morto a tiros em Amsterdã por um marroquino extremista (adjetivação desta escriba), que em seguida o degolou e lhe cravou no peito uma carta em que anunciava sua próxima vítima - Ayaan Hirsi Ali, que fizera ao lado de Theo o filme Submissão, sobre a situação da mulher muçulmana. E assim essa jovem exilada somali, eleita deputada do Parlamento holandês e conhecida na Holanda por sua luta pelos direitos da mulher muçulmana e suas críticas ao fundamentalismo islâmico, tornou-se famosa mundialmente. No ano seguinte, a revista Time a incluiu entre as cem pessoas mais influentes do mundo. Como foi possível para uma mulher nascida em um dos países mais miseráveis e dilacerados da África chegar a essa notoriedade no Ocidente? Em 'Infiel', sua autobiografia precoce, Ayaan narra a impressionante trajetória de sua vida, desde a infância tradicional muçulmana na Somália até o despertar intelectual na Holanda e a existência cercada de guarda-costas no Ocidente. É uma vida de horrores, marcada pela circuncisão feminina aos cinco anos de idade, surras freqüentes e brutais da mãe, e um espancamento por um pregador do Alcorão que lhe causou uma fratura no crânio. É também uma vida de exílios, pois seu pai, quase sempre ausente, era um importante opositor da ditadura de Siad Barré - a família fugiu para a Arábia Saudita, depois para a Etiópia, e finalmente se fixou no Quênia. Obrigada a freqüentar escolas em muitas línguas diferentes e conviver com costumes que iam do rigor muçulmano da Arábia à mistura cultural do Quênia, a adolescente Ayaan chegou a aderir ao fundamentalismo islâmico como forma de manter sua identidade. Mas a guerra fratricida entre os clãs da Somália e a perspectiva de ser obrigada a se casar com um desconhecido escolhido por seu pai, conforme uma tradição que ela questionava, mudaram sua vida, e ela acabou fugindo e se exilando na Holanda. Ela descobre então os valores ocidentais iluministas de liberdade, igualdade e democracia liberal, e passa a adotar uma visão cada vez mais crítica do islamismo ortodoxo, concentrando-se especialmente na situação de opressão e violência contra a mulher na sociedade muçulmana". (Deu na Veja de 17/10/2007) "Ayaan Hirsi Ali é uma mulher de sorte. Pelo menos, é o que ela diz no epílogo de Infiel (tradução de Luiz A. de Araújo; Companhia das Letras; 512 páginas), seu livro de memórias. Não deixa de ser uma declaração surpreendente: nas páginas que antecedem o capítulo final, Ayaan passa pela excisão do clitóris, em uma operação bárbara, realizada sem anestesia, e é espancada até ter a cabeça fraturada por um professor da escola islâmica – para ficar apenas com os infortúnios da infância. Crítica feroz da opressão das mulheres sob o Islã, a ex-parlamentar holandesa de origem africana detesta a insinuação de que seus ataques são resultado do ressentimento por seu passado "traumático". "Quero ser julgada pela legitimidade dos meus argumentos, não como uma vítima", escreve ela. Não resta dúvida, porém, de que sua biografia empresta força ao seu argumento. Ayaan diz basicamente que o mundo islâmico em geral está em descompasso com a modernidade e que as sociedades ocidentais oferecem mais liberdade e segurança, sobretudo para as mulheres. Nascida na Somália e criada por uma família muçulmana, Ayaan tem a autoridade da experiência para falar desses temas. A grande sorte de Ayaan foi sua fuga para a Holanda, país que lhe deu cidadania e onde ela fez uma breve e controversa carreira política, como parlamentar pelo Partido Liberal. Na Holanda, ela colaborou com o cineasta Theo van Gogh na realização do curta-metragem Submissão, que inflamou os fundamentalistas por sua denúncia da condição feminina sob o Islã – e pelo sacrilégio de mostrar trechos do Corão, em árabe, impressos sobre a pele nua de uma mulher espancada. Em 2004, Mohammed Bouyeri, holandês de ascendência marroquina, matou Van Gogh quando ele andava de bicicleta nas ruas de Amsterdã. Depois de balear o cineasta, ele o degolou e afixou, com uma faca, uma carta em seu peito – repleta de ameaças a Ayaan, que então passou a viver sob vigilância constante de guarda-costas. Incomodados com esse aparato de segurança, os vizinhos de Ayaan pleitearam, na Justiça, que ela deixasse o prédio. Pela mesma época, surgiram acusações de que ela teria mentido na sua solicitação de cidadania holandesa, em 1997. Detalhes mínimos como a mudança de um nome de família quase causaram cassação da cidadania – e provocaram uma crise que levou à queda do gabinete liberal, em 2006. Ayaan mudou-se para os Estados Unidos, onde aceitou uma posição no American Enterprise Institute, um "think tank" conservador. A mulher que estava destinada à servidão doméstica – o pai chegou a arranjar seu casamento com um desconhecido – acabou entrando para uma lista das 100 pessoas mais influentes do mundo elaborada pela revista Time, em 2005. Adversária do relativismo, Ayaan não admite que práticas como a ablação do clitóris e o casamento arranjado à revelia da mulher sejam desculpadas em nome do respeito a tradições primitivas. Essas posições perfeitamente razoáveis têm valido a ela uma bizarra acusação de rendição ao "imperialismo cultural" do Ocidente – como se ela devesse se submeter à opressão e à tortura por fidelidade a suas raízes. À parte sua história fascinante, marcante no livro de Ayaan é o desassombro com que ela afirma cabalmente a superioridade dos valores ocidentais: "Passei do mundo da fé para o mundo da razão. Sei que um desses mundos é simplesmente melhor do que o outro". Quando: 20/10/07, às 19:00. Onde: Livraria Cultura Conjunto Nacional. Endereço: Avenida Paulista, 2073.

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