Vlade retro!
Sempre que está em crise, ou se separa da esposa, ele recorre às raízes profundas do relacionamento suplementar. Colinho seguro, ventrizinho quente, até que a titular o chame.
Chega cheio de dengo, revisa os erros cometidos, promete amor eterno. Choraminga pela undécima vez todas as faltas e carências da infância e adolescência sofridas. Arremata com as raízes profundas que lhe dão sustentação para continuar existindo. Ela resiste a princípio, nem é charme, coitada. É a dignidade lutando para não se afogar nos canais lamacentos de seu coração de mãe. Mas a dignidade faz glub-glub, e ela, mais uma vez, entende, acolhe e ele arremata com as infalíveis raízes profundas.
O telefone toca. Ele reconhece o número. É ela, a outra, entenda-se, a oficial. Precisa atender. Vai que ela está precisando de alguma coisa, que tentou suicídio. Ele é solidário. Afasta as raízes profundas e entoa voz de cachorro abandonado, protegido pela mão em concha no celular. Desorienta-se. Precisa ir embora. Assim que puder volta. Tudo bem. Ela murmura: “Não se preocupe, não estou chorando. É um cisco”. Ele sopra os dois olhos dela, por precaução. Afinal, ela não especificou o olho hospedeiro do cisco. Despede-se. Sussurra: “Até logo, meu bem, não se esqueça, nosso amor está escrito nas estrelas e tem raízes profundas”. (Do livro novo: "Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor!)
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