“O sonho americano” - discurso de Obama traduzido para o português
Discurso pronunciado pelo senador democrata Barack Obama na Convenção Nacional Democrata, no estádio Invesco, em Denver (Colorado), dia 29/08/08.
(Por: João Cláudio Garcia - Correio Braziliense)
”Para o presidente Dean (Howard Dean, presidente do Partido Democrata) e meu grande amigo Dick Durbin, e para todos os meus caros cidadãos desta grande nação. Com profunda gratidão e humildade, eu aceito sua indicação para a presidência dos Estados Unidos. Deixem-me expressar meus agradecimentos à histórica lista de candidatos que me acompanharam nesta jornada, e especialmente àquela que viajou mais longe — uma campeã pelos trabalhadores americanos e uma inspiração para as minhas filhas e as suas —, Hillary Rodham Clinton (ex-primeira-dama). Para o presidente (Bill) Clinton, que na noite passada fez uma defesa da mudança como só ele poderia; para Ted Kennedy (senador), que incorpora o espírito do serviço; e para o próximo vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, eu lhes agradeço. Eu sou grato por terminar esta jornada com um dos estadistas mais finos de nossos tempos, um homem de fino trato — seja com os líderes mundiais ou os condutores do trem Amtrak que ele ainda toma todas as noites. Para o amor da minha vida, nossa próxima primeira-dama, Michelle Obama, e para Sasha e Malia — eu amo vocês tanto e sou tão orgulhoso de vocês.
Quatro anos atrás eu surgi diante de vocês e contei minha história — da breve união entre um jovem homem do Quênia e uma jovem mulher do Kansas que não eram conhecidos, mas dividiram uma crença de que, na América, seus filhos poderiam alcançar o que eles colocassem em suas mentes. É essa promessa que sempre distinguiu este país — que por meio do trabalho duro e do sacrifício, cada um de nós pode buscar nossos sonhos individuais, mas ainda nos unirmos como uma família americana, para assegurarmos que a próxima geração poderá perseguir os sonhos dela também.
Por isso, estou aqui nesta noite. Porque por 232 anos, em cada momento quando aquele sonho estava em perigo, homens e mulheres comuns — estudantes e soldados, fazendeiros e professores, enfermeiras e porteiros — encontraram a coragem para mantê-lo vivo. Nós nos encontramos em um desses momentos decisivos — um momento em que nossa nação está em guerra, nossa economia está uma baderna, e a esperança tem sido ameaçada uma vez mais.
Nesta noite, mais americanos estão desempregados ou mais estão trabalhando cada vez mais duro por menos. Mais de vocês têm perdido suas casas e mais ainda estão assistindo suas casas serem desvalorizadas. Mais de vocês têm carros que vocês não podem se permitir dirigir, cartões de crédito que não podem pagar, e educação que está além de seu alcance. Esses desafios não são todos frutos do governo. Mas a falha em responder a eles é o resultado direto de uma política fracassada em Washington e de políticas falhas de George W. Bush.
América, nós somos melhores do que fomos nesses últimos anos. Somos um país melhor do que isso. Este país é mais decente do que um em que uma mulher em Ohio, à beira da aposentadoria, se encontra a uma doença do desastre depois de uma vida inteira de trabalho duro. Este país é mais generoso do que um em que um homem em Indiana tem de empacotar o equipamento com o qual ele trabalhou por 20 anos e assisti-lo ser embarcado para a China, e depois engasgar enquanto explica como se sentiu um fracassado quando foi para casa contar à família. Nós somos mais misericordiosos do que um governo que deixa veteranos dormirem em nossas ruas e famílias escorregarem para a pobreza; que se senta sobre as mãos enquanto uma grande cidade norte-americana afoga bem diante de seus olhos.
Nesta noite, digo ao povo americano, aos democratas, republicanos e independentes ao longo desta grande terra — basta! Esse momento — essa eleição — é nossa chance de manter, no século 21, o sonho americano vivo. Porque na próxima semana, em Minnesota, o mesmo partido que deu a vocês dois mandatos de George Bush e Dick Cheney pedirá a este país um terceiro (mandato). E nós estamos aqui porque amamos este país demais para deixar que os próximos quatro anos sejam parecidos como os últimos oito. Em 4 de novembro, devemos nos levantar e dizer: “Oito anos bastam”.
Agora, deixe-me ser bem claro. O candidato republicano, John McCain, vestiu o uniforme de nosso país com bravura e distinção, e por isso nós devemos a ele nossa gratidão e nosso respeito. E na próxima semana, nós também ouviremos relatos sobre aquelas ocasiões em que ele discordou do partido, como prova de que pode trazer a mudança que precisamos. Mas a história é clara: John McCain tem votado com George Bush em 90% do tempo. O senador McCain gosta de falar sobre discernimento, mas, sinceramente, o que dizer sobre discernimento dele você pensa que George Bush tem sido correto em mais de 90% do tempo? Eu não sei sobre vocês, mas eu não estou pronto para aceitar apenas 10% de chance de mudança.
A verdade é que, em assunto após assunto que fariam diferença em nossas vidas — no acesso à saúde, na educação e na economia —, o senador McCain tem sido tudo menos independente. Ele disse que nossa economia teve “grande progresso” sob este presidente. Ele disse que os fundamentos da economia são fortes. E quando um de seus principais conselheiros — o homem que escreveu seu plano econômico — falava sobre a preocupação que os americanos estão sentindo, ele disse que nós estávamos apenas sofrendo de uma “recessão mental”, e que nós tínhamos nos tornado, e eu repito suas aspas, “uma nação de chorões”.
Uma nação de chorões? Diga isso para os orgulhosos trabalhadores da indústria automobilística de Michigan que, após descobrirem que ela estava fechando, compareceram todos os dias ao emprego e trabalharam duro como nunca, porque eles sabiam que havia pessoas que contavam com os freios que eles fabricavam. Diga isso às famílias de soldados que carregam nos ombros seu fardo, silenciosamente, enquanto assistem seus entes queridos saírem para a terceira, a quarta ou a quinta rodada de serviço militar. Esses não são chorões. Eles trabalham duro, voltam e continuam indo sem reclamar. Esses são os americanos que eu conheço.
Agora, eu não creio que o senador McCain não se importe com o que está acontecendo na vida dos americanos. Eu apenas acho que ele não saiba. Por que ele definiria como classe média alguém que ganha menos de US$ 5 milhões por ano? Como poderia propor centenas de bilhões em cortes de impostos para grandes corporações e empresas de petróleo, mas nenhum centavo de alívio de taxas para mais de 100 milhões de americanos? Como poderia oferecer um plano de saúde que atualmente taxa os benefícios das pessoas, ou um plano de educação que nada faz para ajudar as famílias a pagarem a universidade, ou um plano que privatizaria a previdência social e prejudicaria sua aposentadoria?
Não é porque John McCain não se importa. É porque John McCain não entende isso. Por mais de duas décadas, ele se submeteu àquela velha e desacreditada filosofia republicana — dar mais e mais para aqueles que têm mais e aquela esperança escorregadia para todos os demais. Em Washington, eles chamam isso de “Sociedade de Posse”, mas o que ela realmente significa é: você está por sua própria conta. Desempregado? Má sorte. Sem acesso à saúde? O mercado vai consertar isso. Nascido na pobreza? Saia de lá você mesmo com suas próprias botas, ainda que você não tenha botas. Você está por sua própria conta.
Bem, é hora de eles provarem de seu próprio fracasso. É hora de mudarmos a América. Você vê, nós, democratas, temos uma noção muito diferente do que constitui o progresso nesse país. Nós medimos o progresso por quantas pessoas podem encontrar um trabalho que pague o aluguel; se você pode pôr um dinheirinho extra no fim de cada mês para algum dia assistir ao seu filho receber o diploma da universidade. Nós medimos o progresso nos 23 milhões de novos empregos que criamos quando Bill Clinton era presidente — quando a média das famílias americanas viu sua renda aumentar US$ 7,5 mil, em vez de diminuir US$ 2 mil no governo de George Bush.
Nós medimos a força de nossa economia não pelo número de bilionários que nós temos ou pelos lucros da Fortune 500 (lista anual que apresenta as 500 maiores corporações dos Estados Unidos), mas pelo fato de alguém com uma boa idéia poder arriscar e começar um novo negócio, ou se a garçonete que vive de gorjetas pode tirar uma folga para cuidar de um filho doente sem perder seu emprego — uma economia que honre a dignidade do trabalho.
Os fundamentos que usamos para a força da economia são se nós estamos vivenciando aquele sonho básico que tornou este país grande — o sonho que é a única razão pela qual estou aqui hoje. Porque nos rostos daqueles jovens veteranos que voltaram do Iraque e do Afeganistão eu vejo meu avô, que se alistou após o ataque a Pearl Harbor, marchou no Exército de Patton (General George S. Patton, comandante das tropas norte-americanas na Segunda Guerra Mundial) e foi recompensado por uma nação grata com a chance de ir à universidade pela Lei GI (lei que forneceu educação universitária aos veteranos que retornaram da Segunda Guerra, também chamada de Lei de Reajustamento de Soldados).
Nos rostos daqueles jovens estudantes que dormem apenas três horas antes de trabalharem no turno noturno, eu penso em minha mãe, que criou minha irmã e a mim por conta própria, enquanto ela trabalhava e concluía seu curso; que uma vez pregou rótulos em comida mas ainda foi capaz de nos mandar para as melhores escolas do país com a ajuda de bolsas estudantis.
Quando eu ouço outro trabalhador me dizer que a sua fábrica foi fechada, me lembro de todos os homens e mulheres do Sul de Chicago, pelos quais eu lutei duas décadas atrás, depois que a fábrica de aço local fechou.
E quando eu ouço uma mulher falar sobre as dificuldades de começar o seu próprio negócio, penso em minha avó, que construiu seu caminho desde quando era secretária até se tornar uma gerente-média, depois de anos sem ser promovida por ser mulher. Foi ela quem me ensinou sobre o que é trabalhar duro. Foi ela que abriu mão de comprar um carro novo ou um novo vestido para ela para me dar uma vida melhor. Ela investiu tudo o que ela tinha em mim. E, uma vez que ela não pode mais viajar, sei que ela está me assistindo hoje, e hoje a noite também é dela.
Não sei que tipo de vida John McCain pensa que uma celebridade leva, mas essa tem sido a minha. Esses são os meus heróis. As histórias deles me formaram. E é em nome deles que eu pretendo vencer essa eleição e manter vivo o nosso sonhos como presidente dos Estados Unidos.
Qual é o sonho?
É um sonho que diz que cada um de nós tem a liberdade de fazer de suas vidas o que quiser, mas que também tem a obrigação de tratar uns aos outros com dignidade e respeito.
É um sonho que diz que o mercado deve recompensar a motivação e a inovação e gerar crescimento, mas que os empresários devem estar à altura de suas responsabilidades de criar empregos na América, estar atento aos trabalhadores americanos e seguir as nossas regras.
Nosso é o sonho que diz que o governo não pode resolver todos os nossos problemas, mas o que ele deve fazer é o que não podemos fazer por nós mesmos — nos proteger do mal e garantir a cada criança uma educação decente; manter nossa água limpa e os nossos brinquedos seguros; investir em novas escolas, novas estradas e em ciência e tecnologia.
Nosso governo deve trabalhar por nós, não contra nós. Deve nos ajudar, não nos ferir. Ele deve garantir oportunidade não só para aqueles que têm mais dinheiro e influência, mas para todo americano que quer trabalhar.
Esse é o sonho americano — a idéia que nós somos responsáveis por nós mesmos, mas que também crescemos ou caímos como uma nação; a certeza fundamental de que eu sou responsável pelo meu irmão; sou responsável pela minha irmã.
Esse é o sonho que precisamos manter. Essa é a mudança que nós precisamos agora. Então, me deixe explicar exatamente o que essa mudança vai significar se eu for eleito presidente.
Mudança significa uma tarifa tributária que não recompensa os lobistas que a criaram, mas os trabalhadores americanos e os pequenos empresários que necessitam.
Ao contrário de John McCain, vou parar de conceder redução de impostos para as grandes corporações que criam empregos no exterior e começar a concedê-la às empresas que criam bons empregos aqui, na América.
Vou eliminar os impostos sobre ganho de capital dos pequenos empresários e dos iniciantes que vão criar os empregos bem remunerados e de alta tecnologia de amanhã.
Eu vou cortar os impostos — cortar os impostos — de 95% das famílias trabalhadoras. Porque, em uma economia como essa, a última coisa que devemos fazer é aumentar a tributação sobre a classe média. E, pelo bem de nossa economia, de nossa segurança e do futuro de nosso planeta, vou estabelecer uma meta clara como presidente: em 10 anos, nós finalmente encerraremos nossa dependência de petróleo do Oriente Médio.
Washington vem falando sobre a nossa dependência do petróleo nos últimos 30 anos, e John McCain está lá há 26 anos. Nesse tempo, ele disse “não” aos limites para aumentar eficiência no consumo de combustível dos carros, disse “não” aos investimentos em energia renovável, “não” aos combustíveis renováveis. E hoje, nós importamos o triplo da quantidade de petróleo do que quando o senador McCain assumiu.
Agora é hora de acabar com essa dependência e entender que perfurar (poços de petróleo) é uma medida quebra-galho, não uma solução a longo prazo. Nem está perto de ser.
Como presidente, vou explorar nossas reservas de gás natural, investir em tecnologia limpa e buscar formas de aproveitar, de forma segura, a energia nuclear. Vou ajudar a reestruturação de nossa indústria de automóveis, para que os carros com consumo eficiente de combustível do futuro comecem a ser feitos agora na América. Vamos tornar fácil o acesso da população americana a esse tipo de carro. E vamos investir US$ 150 bilhões, nos próximos dez anos, em fontes de energia acessível e renovável — energia eólica e energia solar e a próxima geração de biocombustíveis; um investimento que vai levar a novas indústrias e a cinco milhões de novos empregos que pagam bem e que não poderão nunca ser terceirizados.
América, agora não é hora para pequenos projetos.
Agora é hora para finalmente encarar nossa obrigação moral de oferecer a cada criança uma educação muito superior, porque será preciso nada menos do que isso para competir na economia global. Michelle e eu só estamos aqui hoje porque tivemos acesso a educação. E eu não vou me acomodar em uma América onde algumas crianças não tenham essa chance. Vou investir na educação infantil. Vou recrutar um exército de novos professores, e pagar a eles salários altos, dar a eles mais apoio. Em troca, pedirei nível educacional mais elevado e cumprimento da expectativas. E manteremos nosso sonho para cada jovem americano — se você se compromete a servir nossa comunidade e nosso país, garantiremos que você pode ter acesso ao ensino superior.
Agora é hora de manter o sonho de assistência médica acessível e ampla para cada americano. Se você tem seguro médico, meu projeto vai reduzir suas despesas. Se você não tem, você terá oportunidade de conseguir um tipo de cobertura igual ao que membros do Congresso concedem a eles mesmos. Como uma pessoa que assistiu à própria mãe discutir com seguradoras enquanto ela estava na cama, morrendo de câncer, eu vou garantir que essas empresas parem de discriminar aqueles que estão doentes e tanto precisam de ajuda.
Agora é hora de ajudar famílias com remuneração mesmo durante os dias de afastamento por problema de saúde, com uma licença-família, porque ninguém na América deve escolher entre manter o emprego ou cuidar de uma criança ou um parente enfermo.
Agora é hora de mudar nossas leis de falência, para que sua aposentadoria fique protegida dos bônus destinados aos executivos de empresas. É hora de proteger a seguridade social para as futuras gerações. E agora é hora de manter a esperança de um pagamento igual para dias de trabalho iguais, porque eu quero que minhas filhas tenham exatamente as mesmas oportunidades de seus filhos.
Agora, muitos desses planos custarão dinheiro. É por isso que eu determinei como vou pagar cada centavo — combatendo desvios nas empresas e paraísos fiscais que não ajudam a América a crescer. Mas também vou me debruçar sobre o orçamento federal, linha por linha, eliminando projetos que não funcionam e levando adiante aqueles que precisamos que funcionem melhor e custem menos — porque não podemos enfrentar os desafios do século 21 com uma burocracia do século 20.
Democratas, precisamos admitir também que para realizar o sonho americano será necessário mais que dinheiro. Será necessário um senso renovado de responsabilidade de cada um de nós para descobrir novamente o que John F. Kennedy chamou de nossa “força intelectual e moral”. Sim, o governo deve ser líder para nos levar à independência energética, mas cada um de nós deve fazer sua parte para tornar nossas casas e nosso local de trabalho mais eficientes. Sim, devemos construir mais escadas para o sucesso de jovens que entram no mundo do crime e desespero. Mas também devemos reconhecer que programas, sozinhos, não podem substituir os pais, que o governo não pode desligar a televisão e convencer uma criança a fazer o dever de casa, que os pais devem assumir mais responsabilidade para dar o amor e a orientação dos quais os filhos precisam.
Responsabilidade individual e responsabilidade mútua — essa é a essência do sonho americano.
E assim como nós mantemos nosso sonho para a próxima geração aqui no país, também devemos manter o sonho americano no exterior. Se John McCain quer debater sobre quem tem o temperamento, e o discernimento, para servir como próximo comandante-chefe, esse é um debate para o qual estou pronto.
Enquanto o senador McCain voltava sua atenção para o Iraque poucos dias depois do 11 de setembro, eu me mantive contra essa guerra por saber que ela nos distrairia das reais ameaças que estão diante de nós. Quando John McCain disse que nós poderíamos apenas “nos atolarmos” no Afeganistão, eu pedi mais recursos e mais tropas pata terminar a luta contra os terroristas que verdadeiramente nos atacaram no 11 de setembro. E deixei claro que devemos pegar Osama bin Laden e seus colaboradores se os tivermos ao alcance. John McCain gosta de dizer que perseguirá Bin Laden até nos portões do inferno — mas não vai nem à caverna onde Bin Laden está.
Hoje, mesmo enquanto meu apelo para que um calendário de retirada de nossos militares do Iraque encontra eco no governo iraquiano e em integrantes do governo Bush, mesmo quando ficamos sabendo que o Iraque tem um superávit de US$ 79 bilhões — enquanto mergulhamos em déficits —, John McCain se mantém sozinho em sua rejeição para pôr um fim nessa guerra sem sentido.
Esse não é o discernimento que precisamos. Isso não tornará a América mais segura. Precisamos de um presidente que possa enfrentar as ameaças do futuro e não continue propagando as mesmas idéias do passado.
Você não derrotará uma rede terrorista que opera em 80 países ocupando o Iraque. Você não protegerá Israel e conterá o Irã apenas falando duro em Washington. Você não pode ficar verdadeiramente ao lado da Geórgia quando deteriorou nossas mais antigas alianças. Se John McCain quer seguir George Bush com mais palavras duras e estratégias ruins, essa é a escolha dele — mas não é a mudança da qual precisamos.
Somos o partido de Roosevelt. Somos o partido de Kennedy. Então, não me diga que os democratas não defenderão este país. Não me diga que os democratas não nos darão segurança. A política externa de Bush e McCain consumiu o legado que gerações de americanos — democratas e republicanos — construíram, e estamos aqui para recuperar esse legado.
Como comandante-chefe, eu nunca hesitarei em defender esta nação, mas só enviarei tropas para caminhos difíceis com uma missão clara e um compromisso sagrado de dar a eles os equipamentos que precisam no campo de batalha e os cuidados e benefícios que merecem ao voltar para casa.
Terminarei essa guerra no Iraque de forma responsável, e encerrarei a luta contra a Al-Qaeda e o Talibã no Afeganistão. Reconstruirei nossas Forças Armadas para enfrentar futuros conflitos. Mas também renovarei a diplomacia dura e direta que pode impedir o Irã de obter armas nucleares e suprimir a agressão russa. Formarei novas parcerias para derrotar as ameaças do século 21: terrorismo e proliferação de armas nucleares; pobreza e genocídio; mudança climática e doenças. E vou restaurar nossa atitude moral, de maneira que a América volte a ser a última e a melhor esperança para todos os que são chamados pela causa da liberdade, que anseiam por viver em paz e aspiram a um futuro melhor.
Essas são as políticas que adotarei. E, nas próximas semanas, estou ansioso por discuti-las com John McCain.
O que não vou fazer é dizer que o senador toma posições segundo seus propósitos políticos. Porque uma das coisas que temos de mudar na nossa política é a idéia de que as pessoas não podem discordar sem questionar o caráter e o patriotismo umas das outras.
Os tempos são muito sérios, as apostas são muito altas para continuarmos seguindo o mesmo script do partidarismo. Portanto, vamos convir que o patriotismo não tem legenda. Eu amo este país, como vocês e como John McCain. Os homens e mulheres que servem ao país nos campos de batalha podem ser democratas, republicanos ou independentes, mas eles lutaram juntos e sangraram juntos, e alguns morreram juntos sob a mesma orgulhosa bandeira. Eles não serviram à América “azul” ou à América “vermelha” — serviram aos Estados Unidos da América.
Portanto, temos boas notícias para você, John McCain. Todos nós colocamos o país em primeiro lugar.
América, o nosso trabalho não será fácil. Os desafios que confrontamos requerem escolhas difíceis, e tanto democratas quanto republicanos terão de jogar for a as idéias e a política do passado. Porque parte do que se perdeu nos últimos oito anos não pode ser medido em termos de salários perdidos ou déficits comerciais maiores. O que também se perdeu foi nosso senso de propósitos comuns — nosso senso de um propósito mais elevado. E é isso que temos de restaurar.
Podemos não concordar sobre o aborto, mas certamente podemos estar de acordo quanto a reduzir o número de gravidez indesejadas neste país. A realidade do porte de armas de fogo pode ser diferente para caçadores na região rural de Ohio e para os que são castigados pela violência das gangues em Cleveland, mas não venham me dizer que não podemos manter intacta a Segunda Emenda constitucional e ao mesmo tempo manter os fuzis AK-47 longe das mãos dos criminosos. Sei que existem diferenças sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas certamente podemos concordar em que nossos irmãos e irmãs gays e lésbicas merecem poder visitar a pessoa que amam no hospital, e viver a vida deles livres de discriminação. A imigração desata paixões, mas não conheço ninguém que saia ganhando quando uma mãe é separada do filho pequeno, ou quando um empregador rebaixa os salários dos americanos contratando trabalhadores ilegais. Isso também é parte da promessa americana — a promessa de uma democracia na qual podemos encontrar força e benevolência para construir pontes sobre o que nos divide e nos unir em esforços comuns.
Sei que existem aqueles que desprezam essas crenças como se não passassem de conversa fácil. Eles afirmam que a nossa insistência em defender algo maior, mais firme e mais honesto na vida pública pe apenas um cavalo de Tróia para aumentar os impostos e abandonar valores tradicionais. E é isso que se deveria esperar. Porque, se você não tem idéias novas, então você usa a tática de assustar os eleitores. Se você não tem um histórico sobre o qual caminhar, então você pinta o oponente como alguém de quem as pessoas deveriam fugir.
É possível fazer uma grande eleição com coisas pequenas.
E vocês sabem o quê — porque já funcionou antes. Porque essas coisas alimentam o cinismo de todos nós em relação ao governo. Quando Washington não funciona, todas as promessas parecem ocas. Se as esperanças são varridas, uma e outra vez, então o melhor é deixar de ter esperanças e ficar com o que você já conhece.
Eu entendo. Eu sei que não sou o candidato mais provável para esse cargo. Não tenho o pedigree típico, nem fiz minha carreira nos salões de Washington.
Mas estou diante de vocês, nesta noite, porque pela América inteira alguma coisa está se levantando. O que a turma do “não” é incapaz de entender é que nesta eleição o assunto nunca fui eu. O assunto são vocês.
Por 18 longos meses, vocês se levantaram, um a um, para dizer que basta dessa política do passado. Vocês entendem que, nesta eleição, o maior risco que se poderia assumir seria tentar repetir a mesma velha política, com os mesmos velhos atores, e esperar um resultado diferente. Vocês demonstraram aquilo que a história nos ensina — que em momentos de definição, como este, a mudança de que precisamos não virá de Washington. Ela chegará a Washington. A mudança acontece porque o povo americano exige, porque ele se levanta e insiste em novas idéias e novos líderes, uma nova política para um novo tempo.
América, este é um desses momentos.
Acredito que, difícil como possa ser, a mudança de que precisamos está vindo. Porque eu vi. Porque eu vivi. Eu vi em Illinois, quando garantimos assistência médica para mais crianças e transferimos mais famílias dos benefícios da previdência para o mundo do trabalho. Eu vi em Washington, quando trabalhamos unidos, por sobre as divisões partidárias, para tornar o governo mais aberto e manter os lobistas sob controle, para cuidar melhor dos veteranos de guerra e manter armas nucleares longe das mãos dos terroristas.
E eu vi isso nesta campanha. Nos jovens que votaram pela primeira vez, e nos que voltaram a se envolver depois de tanto tempo. Nos republicanos que nunca pensaram que fossem um dia participar de uma primária democrata, e participaram. Nos trabalhadores que preferem reduzir a jornada diária de trabalho a ver os amigos perderem o emprego, nos soldados que se realistaram depois de sofrer uma mutilação, nos bons vizinhos que abrigam um estranho em casa quando um furacão provoca enchentes.
Este nosso país tem mais riquezas do que qualquer outro, mas não é isso que nos faz ricos. Temos a força militar mais poderosa do mundo, mas não é isso que nos faz fortes. Nossas universidades e nossa cultura são invejadas pelo mundo, mas não é isso que continua a trazer o mundo para as nossas costas.
Em vez disso, é o espírito americano, é a promessa americana que nos empurra para a frente mesmo quando o caminho é incerto; que nos une apesar de nossas diferenças; que nos leva a fixar o olhar não naquilo que está à vista, mas naquele lugar melhor que ainda não foi avistado.
Essa promessa é a nossa grande herança. É a promessa que faço às minhas filhas quando as coloco para dormir, a promessa que vocês fazem aos seus filhos — uma promessa que guiou imigrantes através dos oceanos e levou os pioneiros a viajar para o Oeste. Uma promessa que levou trabalhadores aos piquetes e mulheres a desafiar as balas.
E foi essa promessa que, hoje há exatamente 45 anos, levou americanos de todos os cantos do país para o Obelisco de Washington, diante do Memorial de Lincoln, para ouvir um jovem pastor da Geórgia falar do seu sonho.
Os homens e mulheres que se reuniram ali poderiam ter ouvido muita coisa. Poderiam ter ouvido palavras de ódio e discórdia. Poderiam ter dito a eles que sucumbissem ao medo e à frustração de tantos sonhos negados.
Mas, em vez disso, o que ouviram — gente de todos os credos e todas as cores, de todos os setores sociais — foi que, na América, nosso destino está inextricavelmente ligado. Que nossos sonhos podem ser um único sonho.
“Não podemos caminhar sozinhos”, disse o pastor. “E, à medida que caminhamos, temos de fazer a promessa de que vamos caminhar sempre para a frente. Não podemos voltar para trás.”
América, não podemos retroceder. Não com tanta coisa por fazer. Não com tantas crianças para educar, tantos veteranos para cuidar. Não com uma economia para ajustar, cidades para reconstruir e fazendas para salvar. Não com tantas famílias para proteger e tantas vidas para consertar. América, não podemos retroceder. Não podemos caminhar sozinhos. Neste momento, nesta eleição, temos de nos comprometer uma vez mais a caminhar para o futuro. Vamos manter aquela promessa — a promessa americana — e, como dizem as Escrituras, segurar com firmeza, sem hesitar, a esperança que confessamos.
Obrigado, Deus abençoe vocês e Deus abençoe os Estados Unidos da América”.
http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_4/2008/08/29/noticia_interna,id_sessao=4&id_noticia=28239/noticia_interna.shtml?
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