As patas do Norte não encontrarão pulgas no Sul!

Abro o correio eletrônico logo cedo e leio a mensagem duas vezes para crer no que estou lendo. O editor gringo, afro-gringo, neste caso, comunica-me que, em visita próxima ao Brasil, deseja ler a primeira versão do conto que escreverei (sic!) para a publicação dele. Respondo de pronto: “caro fulano, desculpe, mas não costumo trabalhar desse jeito, não gostaria de apresentar "uma primeira versão à você", considero isto uma interferência no meu trabalho criativo, além de infantilizar a profissional que sou. Como editor, pretendo submeter o texto à você na data definida para entregá-lo e a partir daí, conversaremos, ouvirei suas considerações e, caso as julgue pertinentes, posso incorporá-las. Caso não as julgue relevantes, deixo-as de lado. Caso você não goste do texto, não publica, é simples, mas não o submeterei à sua avaliação enquanto ele estiver em processo. Costumo solicitar a leitores da minha confiança alguma avaliação crítica da minha escritura, mas são pessoas escolhidas/convidadas por mim, em momentos que julgo necessários. Você conhece a qualidade do meu trabalho e imagino que tenha me convidado para participar de sua coletânea, baseado nela, portanto, aguarde e confie no resultado final. Quanto à temática do conto, você pode, sim, sugerir algo, é certo que esteja pensando em alguma linha condutora para o livro, para dar a ele uma certa unidade”. É mole? Quando eu digo a vocês que vida de escritora não é fácil, vocês não acreditam. Eu deveria ter dito mais, faço-o agora, para um público ampliado: 1 – Escritoras e escritores afro-brasileiros não são equivalentes a estudantes de literatura em universidades estadunidenses. Em um curso, com estudantes, faz muito sentido ter draft 1, draft 2, draft 3... e quantos drafts forem necessários para produzir um bom texto, mas com profissionais, o relacionamento é de outra natureza. Infelizmente, professores, às vezes, esquecem-se deste detalhe. 2 – Configura total arbitrariedade, autoritarismo e presunção de quinta categoria dizer-se a um criador que alguém vai monitorar e avaliar sua criação em processo. E, se o criador se submete a isso, em nome de uma publicaçãozinha no exterior, deve mudar de ofício, pois está no caminho errado. 3 – E muitos de nós têm se sujeitado, para nossa tristeza, pois, este tipo de atitude prepotente só se mantém porque reverbera na subserviência, na aquiescência, no rastejar de alguns atrás do farelo jogado aos porcos. 4 – Por fim, eu sou Obama, desde sempre, mas quem me dá lastro é Joaquim Barbosa, é Marina Silva, minha candidata à Presidência em 2010. Portanto, take it ease, man!

Comentários

Luiz disse…
u-hu!

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