Se fosse branco, Ronaldinho poderia se comportar como Aécio Neves
Por Caio Maia
"Alguém sabe que tipo de música rola nas baladas na casa de Thor, o filho com nome de Deus de história em quadrinhos de Eike Batista? Ou qual o som preferido das festas que dava o "piloto" Pedro Paulo Diniz? Alguma manchete do tipo "Techno varava a noite na mansão"? Na casa de Ronaldinho Gaúcho, porém, todos sabem. E não é coincidência que seja pagode, ritmo "de pobre", "de preto".
Ronaldinho Gaúcho está muito longe de ser um modelo de comportamento. Mas não é, que eu saiba, padre, ministro da República ou apresentador de programa infantil. Exige-se dele, entretanto, o que nunca se exige de, digamos, Aécio Neves, ministros evangélicos ou Xuxa. O culto evangélico que impede o sono de um bairro é protegido por lei. O pagode, não. Alguém sabe, aliás, que som rola nas baladas que frequenta o quem-sabe-futuro-presidente Aécio Neves? Ou a que horas o senador chega ao trabalho?
Aécio Neves é pago com dinheiro público. Ronaldinho, não. Nem com dinheiro público, nem com dinheiro privado. Exige-se dele, porém, comportamento modelo. Pelo simples fato de que é negro e milionário, e o Brasil aceita negros milionários, desde que "se comportem". Não consta, por exemplo, que público e mídia se chocassem enquanto o branco Kaká sustentava com sua fama e prestígio uma igreja dirigida por criminosos, certo?
Ronaldinho relaxou, viveu na noite, isso ninguém discute. No Milan, onde ele recebia em dia, já era assim, dizem. O que não corresponde à inteira verdade. No Milan, Ronaldinho não era mais o Ronaldinho comprometido do Barcelona. Mas ainda justificava o que ganhava. O que autoriza a supor que, se recebesse seu salário no Flamengo, poderia ser da mesma maneira.
Quando eu tinha quase 30 anos tive um emprego em que era mal pago e nada reconhecido. Deixei-o depois de dois anos, mas nunca tentei me enganar de que meu comprometimento ali era total. Não chegava atrasado, não faltava, mas só porque seria demitido. Nem acho que estava correto em tratar a coisa com seriedade "moderada". Mas assim é o ser humano. Você ganha mal, ou não ganha, e seu empregador te trata como lixo. Você não se motiva. Alguns se motivam, é fato, principalmente os que não têm escolha. A maioria, porém, faz o suficiente para não perder o emprego. Até que não aguenta mais. Foi o que fez Ronaldinho.
Agora. a simples possibilidade de se querer contar com um dos jogadores de futebol mais habilidosos do mundo é tratada com escárnio. Como se fosse melhor ter Jadson, Alex ou Diego Souza inteiros do que um Ronaldinho disposto a jogar bem uma vez por semana - e nos jogos decisivos. Como jogou no Milan. Não, eu não pagaria R$ 1 mi por mês para o gaúcho. Mas queria no meu time, sem nenhuma sombra de dúvida.
Se fosse branco, Assis, o irmão de Ronaldinho, seria apenas um "otimo negociador". Como os piratas da Fórmula 1, recebidos no Brasil como estrelas - estou falando dos donos do negócio, não dos pilotos. Como Aécio Neves, eles podem, e a única diferença que há entre eles e Ronaldinho é essa: são brancos."
"Alguém sabe que tipo de música rola nas baladas na casa de Thor, o filho com nome de Deus de história em quadrinhos de Eike Batista? Ou qual o som preferido das festas que dava o "piloto" Pedro Paulo Diniz? Alguma manchete do tipo "Techno varava a noite na mansão"? Na casa de Ronaldinho Gaúcho, porém, todos sabem. E não é coincidência que seja pagode, ritmo "de pobre", "de preto".
Ronaldinho Gaúcho está muito longe de ser um modelo de comportamento. Mas não é, que eu saiba, padre, ministro da República ou apresentador de programa infantil. Exige-se dele, entretanto, o que nunca se exige de, digamos, Aécio Neves, ministros evangélicos ou Xuxa. O culto evangélico que impede o sono de um bairro é protegido por lei. O pagode, não. Alguém sabe, aliás, que som rola nas baladas que frequenta o quem-sabe-futuro-presidente Aécio Neves? Ou a que horas o senador chega ao trabalho?
Aécio Neves é pago com dinheiro público. Ronaldinho, não. Nem com dinheiro público, nem com dinheiro privado. Exige-se dele, porém, comportamento modelo. Pelo simples fato de que é negro e milionário, e o Brasil aceita negros milionários, desde que "se comportem". Não consta, por exemplo, que público e mídia se chocassem enquanto o branco Kaká sustentava com sua fama e prestígio uma igreja dirigida por criminosos, certo?
Ronaldinho relaxou, viveu na noite, isso ninguém discute. No Milan, onde ele recebia em dia, já era assim, dizem. O que não corresponde à inteira verdade. No Milan, Ronaldinho não era mais o Ronaldinho comprometido do Barcelona. Mas ainda justificava o que ganhava. O que autoriza a supor que, se recebesse seu salário no Flamengo, poderia ser da mesma maneira.
Quando eu tinha quase 30 anos tive um emprego em que era mal pago e nada reconhecido. Deixei-o depois de dois anos, mas nunca tentei me enganar de que meu comprometimento ali era total. Não chegava atrasado, não faltava, mas só porque seria demitido. Nem acho que estava correto em tratar a coisa com seriedade "moderada". Mas assim é o ser humano. Você ganha mal, ou não ganha, e seu empregador te trata como lixo. Você não se motiva. Alguns se motivam, é fato, principalmente os que não têm escolha. A maioria, porém, faz o suficiente para não perder o emprego. Até que não aguenta mais. Foi o que fez Ronaldinho.
Agora. a simples possibilidade de se querer contar com um dos jogadores de futebol mais habilidosos do mundo é tratada com escárnio. Como se fosse melhor ter Jadson, Alex ou Diego Souza inteiros do que um Ronaldinho disposto a jogar bem uma vez por semana - e nos jogos decisivos. Como jogou no Milan. Não, eu não pagaria R$ 1 mi por mês para o gaúcho. Mas queria no meu time, sem nenhuma sombra de dúvida.
Se fosse branco, Assis, o irmão de Ronaldinho, seria apenas um "otimo negociador". Como os piratas da Fórmula 1, recebidos no Brasil como estrelas - estou falando dos donos do negócio, não dos pilotos. Como Aécio Neves, eles podem, e a única diferença que há entre eles e Ronaldinho é essa: são brancos."
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