Por te amar




Por Cidinha da Silva

Por te amar, eu pintei um azul de o céu se admirar. Até o mar adocei e das pedras leite eu fiz brotar. De um vulgar fiz um rei, e do nada, um império para te dar.

Enfim, um horizonte melhor me sorriu. Minha dor virou gota no mar. Saí daquela maré, Luiz, não vivo mais à sombra dos ais.

Não foi fácil, meu velho. Vieram para mim de barba-de-bode e eu de comigo-ninguém-pode fiz o mar desaguar no chafariz.

Fui ao Cacique de Ramos, planta onde em todos os ramos cantam os passarinhos nas manhãs. Quando a moçada puxou suas músicas, meu coração desaguou, de alegria e saudade. Olhei para o alto das tamarineiras, as guardiãs da poesia, e elas vestiam um laço branco, como Kitembo. E só ele, para acomodar dores e saudade. Continuamos cantando, buscando o tom, um acorde com lindo som, para tornar bom, outra vez, o nosso cantar.

Então os meninos entoaram seu samba para dona Ivone: “Lara, o seu laraiá é lindo. São canções de quem tantos corações retêm com seu canto. Baila e baila o ar ao te ouvir”. Tão singela e precisa definição.

Na volta passei por Manguinhos, mirei a lua de Luanda que veio para iluminar a rua. Visitei a fachada da escola pública, batizada com o seu nome: Luiz Carlos da Vila! Que alegria. Eu já sabia, passei para te ver.

É Luiz, a chama não se apagou, nem se apagará, enquanto as ondas do mar brincarem com a areia. São luzes de eterno fulgor, Candeia e Luiz Carlos da Vila. O tempo que o samba viver, o sonho não vai acabar e ninguém se esquecerá de vocês, os timoneiros. O não chorar e o não sofrer se alastrarão, do jeito que você sonhou no seu dia de graça. Valeu, poeta, seu grito forte dos Palmares.


Por te amar é crônica do livro OH, MARGEM! REINVENTA OS RIOS!
Sessão de autógrafos dia 09 de junho de 2012, às 19:00, na Casa das Rosas. Av. Paulista, 37.

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