“Machistas”, “hipócritas”, “intolerantes”: o discurso sobre o Brasil de Luiz Rufatto, o easter egg da Feira de Frankfurt


 por : Kiko Nogueira

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O escritor mineiro Luiz Rufatto foi o easter egg da delegação de 70 escritores brasileiros que foram à Feira do Livro de Frankfurt. Easter egg, para quem não está familiarizado com o termo, é o elemento surpresa escondido em games, músicas, filmes, quadros etc.
O “projeto Frankfurt” custou 18,8 milhões de reais, bancados pelo Ministério da Cultura, Ministério das Relações Exteriores, Funarte, Câmara Brasileira de Livros (CBL) e Biblioteca Nacional (BN). Começou com algumas confusões. Paulo Coelho reclamou da lista de autores e boicotou a festa, Paulo Lins se queixou de ser o único negro. O presidente do evento, Jürgen Boos, foi acusado de racismo.
Um pavilhão de 2 500 metros quadrados, construído em papel, foi encomendado a Daniela Thomas. A família de Daniela já estava representada, aliás, por seu pai, o cartunista Ziraldo.
Voltando a Rufatto: quem o escalou para o discurso de abertura, provavelmente, não tinha ideia do que viria. Ou, se tinha (uma hipótese remota), preparou uma pegadinha. Em seu blog, quando morou em Lisboa, Rufatto escreveu coisas como: “Acompanho, todos os dias, o noticiário do Brasil, pela TV Record, que ocupa o canal GNT por aqui. Polícia ocupa o Complexo do Alemão, corrupção no Legislativo, filhos da classe media assaltam e espancam doméstica (mas achavam que era uma prostituta, “justificaram”…). Nas outras redes de televisão, praticamente nada sobre o Brasil. Nos jornais, talvez amanhã, por problemas de fuso horário, teremos algo sobre a derrota da seleção na Venezuela… No mais, não existimos… nem mesmo em nossas tragédias cotidianas…”
Se a ideia era vender o Brasil (e o objetivo dessas feiras é esse), Rufatto pegou todo o mundo, com o perdão do clichê, de calças curtas. “O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora?”, começou ele. No final, foi aplaudido de pé pela maioria e vaiado por alguns (segundo a Deutsche Welle, Ziraldo berrava: “Que se mude do Brasil, então!”).
Rufatto foi corajoso e sincero. Não se sabe como a viagem vai acabar. Pode ser como a excursão dos Rolling Stones nos Estados Unidos em 72, com brigas de faca e ameaças de morte. Mas, hei, isso é Brasil. Deve terminar tudo numa boa, com uma feijoada na Prüfeninger Strasse.

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