O mundo dos aplicativos
Por Cidinha da Silva
Inovação tecnológica era com ele
mesmo. O brinquedinho do momento era o check
in, um aplicativo usado pelas celebridades para dar pinta, recomendar um lugar
e fingir importância.
Pois o rapaz estava animadíssimo.
De dentro do carro popular observava pelo binóculo o restaurante fino e mandava
ver: “galera querida, cheguei ao restaurante mais frequentado pelos ricos,
famosos, televisivos e colunáveis da cidade. O botox da fulaninha expirou. O
cicraninho não está tão bem das pernas quanto ostenta, a convidada pagou metade
da conta. O furustreco 1 e o furustreco 2 vestem a mesma camisa. Um
constrangimento. Nada de modelo exclusivo. Adeus galera! Até a próxima edição.”
Era assim em todos os lugares que
o sujeito achava importante noticiar. “Alô, alô turba que me segue, acabo de ocupar minha
cadeira de 500 reais na decisão da Copa das Confederações” ou, “cheguei no
Santos Dumont e adivinhem quem eu vi? A gostosa da novela das nove trocando
afagos com um bonitão novo.”
Aquele dia, contudo, foi o dia da
superação. Ele passava por uma igreja e viu pessoas de terno preto e roupas
fechadas, gente circunspecta e elegante circulando por ali. Abriu o porta-malas
do carro, pegou o blaser clássico das horas especiais, vestiu-o, passou brilhantina
no cabelo, acertando-o impecavelmente no retrovisor, arrumou os óculos escuros,
preparou o aplicativo.
Sacou a cara de consternação mais
convincente do bolso interno do casaco e entrou na fila de visitantes. Os
passos eram lentos, as bocas caladas e ele ansioso para chegar ao início da
fila. O fim de seu arco-íris guardava um caixão lacrado. Diante do inusitado, ele
era só felicidade. Acionou outro aplicativo para a fotografia do dia, enquanto
matutava o texto do check in.
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