O gol de Maurício Mauro
Por Cidinha da Silva
Era pleno de leveza o riso da mulher
quando mais uma jornalista invadia sua casa para perguntar sobre o gol-sensação
do filho. Um menino de 19 anos, negro, filho da mãe, mais um dos que encontram
nas quatro linhas o infinito negado pela vida.
O tiro alcançou a velocidade de 119
km. De fora da área o artilheiro iniciante acertou o ângulo do goleiro. Bateu
com o lado de fora do pé e a bola foi dormir no ninho da coruja. Teve
comentarista louvando a sorte do goleiro que pulou na direção certa, mas não
alcançou o petardo. Podia ter queimado a ponta dos dedos ou mesmo quebrado um,
se pegasse de mau jeito.
A jornalista insistia: “foi o
primeiro gol do seu filho no profissional, uma marca que vai ficar para sempre,
um gol fantástico! A senhora não está emocionada?” “Estou, querida, estou!” A mãe respondia e sorria, sorria, sorria.
Insatisfeita, a entrevistadora tentava
extrair comentários sobre a provável trajetória de labuta e dificuldades das
famílias negras daquele porte, uma mulher simples e seu filho. Um conteúdo de
superação vestiria bem a matéria. Esporte é superação, ela aprendera na cadeira
de jornalismo esportivo, principalmente quando praticado por pessoas humildes.
O problema é que a mãe do jogador
era dura na queda. Ela tinha tanto viço guardado, rizoma espetacular de alegria que não haveria lágrima forçada por jornalista capaz de macular aquele sorriso.
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