Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil a caminho da gráfica
Por
Cidinha da Silva
Quando tenho em mãos a
prova de mais um livro que faço, a alegria é certa. Certeza também de que
atingi o alvo, de que estou no caminho certo. Renovação dos votos de vida.
É assim com este
AFRICANIDADES E RELAÇÕES RACIAIS: INSUMOS PARA POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DO
LIVRO, LEITURA, LITERATURA E BIBLIOTECAS NO BRASIL, segunda obra que organizo
desde que comecei a publicar livros em 2003. O primeiro, exatamente naquele
ano, Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras (Summus, 3ª edição),
primeiro livro que organizei. Entre os dois, dezenas de artigos e ensaios em
papel, centenas de crônicas na Web e oito livros autorais de literatura.
Este Africanidades é o coroamento de um curto
período como gestora pública de cultura iniciado com a Chefia da Representação
Regional da Fundação Cultural Palmares (FCP) em São Paulo e consolidado como
Coordenadora de Disseminação de Informações da FCP-sede, em Brasília.
O desejo instituinte dessa publicação nasceu
no diálogo da FCP com a Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas
(DLLLB) sobre atividades pontuais que poderíamos desenvolver conjuntamente no
ano de 2014. Percebemos ali a oportunidade de desenvolver algo estruturante
para o setor, um embrião de política pública, alimentado e definido pelas
africanidades e relações raciais experimentados no Brasil e de dialogar,
efetivamente, com o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), elaborado em
2006. Tal publicação mapeou as ações em curso no país, cujo foco eram o livro e
a leitura no âmbito dos governos e da sociedade civil. O PNLL reuniu projetos,
programas e ações de ministérios, instituições públicas dedicadas à educação e
à cultura, governos, ONGs e também integrantes do mercado editorial. Contou, em
sua formulação, com a participação de representantes de toda a cadeia produtiva
do livro: editores, livreiros, distribuidores, gráficas, fabricantes de papel,
escritores, administradores, gestores públicos e outros profissionais do livro,
bem como, educadores, bibliotecários, universidades, especialistas em livro e
leitura, organizações da sociedade civil, empresas públicas e privadas,
governos estaduais, prefeituras e interessados em geral.
Nosso conhecimento prévio do PNLL nos
informava que, em seus quatro eixos, a saber: democratização do acesso; fomento
à leitura e à formação de mediadores; valorização institucional da leitura e
desenvolvimento da economia do livro, não havia referências à população
afro-brasileira e sua sub-representação no acesso ao sistema LLLB, assim como
são ausentes também os conteúdos ligados às africanidades e relações raciais.
Configurou-se então a oportunidade de apresentarmos nossa contribuição.
Pretendemos, com este Africanidades e relações raciais,
produzir um diagnóstico robusto da realidade sociocultural do setor do livro,
leitura, literatura e bibliotecas no Brasil, transversalizado pelas dimensões
de raça e africanidades. Queremos mapear quem somos, como estamos e o que
queremos ser. De maneira rica, diversa e contributiva. Intentamos, de um lado,
como vem sendo feito nos Planos Setoriais de Cultura, detectar fragilidades,
obstáculos e desafios por superar, e de outro, salientar oportunidades,
vocações e potencialidades a serem trabalhadas. Nossa missão institucional é
elaborar políticas públicas viáveis e trabalhar com afinco para ampliar o
número de atrizes e atores socioculturais envolvidos em sua execução. Ao
concretizar esta publicação, estamos traçando um caminho, planejando.
Este Africanidades
e relações raciais traz a público a reflexão, o pensamento de 48 mulheres e
homens, predominantemente negros (90%, 43 autores) sobre o tema do LLLB no
Brasil, contemplando dimensões que desejamos tornar preciosas à toda a
população brasileira. São 36 ensaios e depoimentos, um texto ficcional e doze conceitos
cuidadosamente elaborados que visam produzir conhecimento qualitativo,
consubstanciado em argumentos potentes sobre as relações raciais e de
africanidades, visando alimentar as políticas públicas do LLLB, considerando os
desafios da encruzilhada do combate ao racismo e da formação do
leitor-literário.
Foi necessário dividi-lo em etapas, uma vez
que o tempo do serviço público não permitiu a publicação do trabalho
integralmente. Pesou nesta decisão também o aspecto didático, haja vista que a
obra tem quase 400 páginas. Assim, nos vimos obrigadas a reunir neste livro
apenas 37 narrativas e 12 conceitos norteadores do trabalho, e deixar para a
versão on-line dois outros
importantes componentes da obra, a saber, a análise da consulta pública
realizada sobre o tema (outubro, 2014) e as sugestões de políticas públicas
para o setor do LLLB com recorte de africanidades e relações raciais formuladas
a partir da consulta pública, dos textos integrantes desta obra e de outras
conversas com especialistas e do acúmulo reflexivo sobre o tema LLLB.
Aproveitamos para agradecer a todas as pessoas, organizações governamentais e
da sociedade civil que dedicaram parte de seu tempo a responder à consulta
pública e também a divulgá-la.
Falta pouco para que o livro esteja em nossas
mãos para leitura. Em tempo, a capa belíssima, Tereza-curupira, é obra do
artista plástico Rodrigo Bueno em homenagem à escritora Maria Tereza Moreira de
Jesus.
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