#OHomemAzulDoDeserto (6): a 4a capa


Escolhemos para a 4a capa uma das crônicas do livro. Curtinha e representativa do espírito do Homem Azul, do espírito da crônica, ou seja, a captura e a revelação do humano e do belo nas situações corriqueiras e, por isso mesmo, inusitadas.
One people, one love!
Por Cidinha da Silva
A voz forte e afinada brotava não se sabia de onde. Era um grito, um uivo, um lamento. O registro de uma existência.
Conhecida era a levada do Reggae. Ecoavam confusos pedaços da letra filiada à tradição Bobvariana. Parado na sinaleira/rico observa o mundo/limpador de vidro vira mundo pra sobreviver no caos.
Desacelero e olho à volta para descobrir quem canta na manhã ensolarada de domingo. O monturo de lixo se mexe. Emerge de lá, pulando ora numa perna, ora noutra, uma mulher de dreads grossos, pele negra curtida de sol e gordura das sobras dos restaurantes, roupa de sacos de lixo pretos customizados. Um luxo!
Tiro os óculos escuros e penso ver Estamira, mas, que nada, é Arthur Bispo e seu rosário desfiando (en)canto para não enlouquecer.

Comentários

Postagens mais visitadas