Por que capitão do mato?
Por Cidinha da Silva
Poderia ser estratégia de
marketing dizer que Zumbi era herói e Joaquim, capitão do mato. Era 20 de
novembro, feriado sem apelo comercial e
por isso prejudicial ao comércio, fosse por estabelecer um dia de portas
fechadas ou dia comum de estabelecimentos abertos, mas sem impulso de vendas que um feriado deveria
proporcionar.
Marketing para vender a ideia de
que Joaquim, suposto produto midiático, ruía ao estabelecer a prisão daqueles
que o STF condenou. E os membros do PIG, outrora denunciados como parte do
staff do “capitão do mato”, voltam-se contra ele, quando vêem o próprio poder
ameaçado.
Mas afora o 20 de novembro e seu
apelo marketeiro para os defensores da consciência humana, em detrimento da
consciência negra, em que se
relacionaria a postura do presidente do STF com a escravidão e a figura do
capitão do mato? Que negro (além do negro drama de Joaquim) está envolvido na
trama do mensalão? Onde está o negro que subjuga outros, em nome do poder dos
brancos, como fazia o capitão do mato?
Parece ser assim, quando uma
pessoa negra se destaca em alguma posição é necessário sacar a origem
escravizada da algibeira para lembrar-lhe seu lugar social. E lançam mão de
todo tipo de inversão de idéias e recursos de pirotecnia semântica para
adjetivar negativamente qualquer negro que confronte o poder branco.
Se metáfora oriunda do escravismo
coubesse a Joaquim, seria a da pessoa determinada a pagar pela própria
liberdade. Aquela que juntava pecúlio
durante toda a vida para comprar a alforria e que o faria, mesmo com a
iminência da morte. Se sentisse que não teria tempo para morrer livre,
entregaria o dinheiro a uma irmandade de pretos, para ser enterrada dignamente
em cemitério e não ter o corpo jogado no mato, por capitães do mato, e
destroçado por urubus.
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