Sobre Dalmir Francisco


Por Cidinha da Silva
Dalmir Francisco foi o primeiro intelectual negro que conheci quando ainda era mestrando em Ciência Política. Não me lembro em que ele trabalhava, talvez lecionasse em faculdades particulares, só sei que estudava como louco nos finais de semana. Eu via isso quando visitava um amigo no JK e aquele apartamento era o quartel general de estudos do Dalmir.
Eu, estudante recente de graduação, volta e meia perguntava a ele se era necessário ler aqueles livros todos para escrever uma dissertação. Em tom solene, ele me explicava que, para fazer um bom trabalho, sim. Dava uma risada, às vezes pegava no meu queixo enquanto ria, acendia um cigarro e se concentrava na leitura. Ele lia e tomava notas num ritmo alucinado. Não raro falava sozinho enquanto estudava, parecia discutir com o que lia. A gente ia para a cozinha e conversava em voz baixa para não atrapalhá-lo.
Dalmir influenciou e formou muitas gerações. Depois que saí de BH, em 1991, nos encontramos poucas vezes para bater papo. E quando isso acontecia eram encontros questionadores. Dalmir era intelectualmente inquieto.
A última vez que o ouvi foi num simpósio realizado por Leda Martins no Conservatório de Música da UFMG, entre 2010 e 2011. Pude reparar que revisava coisas que dizia no fim da década de 1980 sobre o candomblé e sua política, com certa ironia, até.
Não sei qual foi a causa da morte, mas sei que seu coração era grande e frágil e que precisou de pontes de safena há alguns anos.
Que você faça em paz o caminho de volta, Dalmir. Muito Obrigada por tudo.

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